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COLUNA

Banco Central compra ouro para reforçar reservas cambiais do país

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Entre todos os temas da gestão da economia de um país, um chama a atenção pela discrição com que é tratado pela autoridade monetária: o das reservas cambiais, estejam elas relativamente altas ou baixas. Houve época em que elas só eram divulgadas com seis meses de atraso.



Hoje não é mais assim, mas ainda se trata com cuidado o assunto. Não é questão de sigilo, mas de conveniência. Não há nada escondido, mas também não se faz alarde nem quanto a medidas adequadas à manutenção dos valores reservados.
 
Por isso, teve pouco destaque a recente decisão do Banco Central (BC) de realizar duas grandes compras de ouro para reforçar as reservas do país. Foram adquiridas, em apenas dois meses, 53,7 toneladas de ouro, sendo 11,9 toneladas em maio e 41,8 toneladas em junho (esta última, a mais volumosa já feita pelo Brasil).

O BC não informou o valor pago pelas duas aquisições e tampouco adiantou quando outras compras serão feitas. Há boas razões para esse silêncio. A mais óbvia é evitar a pressão sobre as cotações do metal. Com as novas 53,7 toneladas, as reservas internacionais brasileiras em ouro saltaram de 67,4 toneladas para 121,1 toneladas, aumento de 69,67%.




 
Apesar da compreensível discrição do BC, essas compras merecem mais do que um simples registro, mesmo sabendo-se que elas não vão alterar significativamente o perfil das reservas. A decisão por esse reforço das reservas, tomada após 20 anos sem qualquer aquisição de ouro físico, vale uma reflexão sobre a importância desse patrimônio público.
 
As reservas cambiais (ou internacionais) são assim chamadas por serem constituídas em moedas ou títulos estrangeiros conversíveis em moeda de aceitação internacional. É fundamental o reconhecimento da liquidez dos ativos que compõem as reservas de um país pelas demais nações com as quais ele mantém relações comerciais e financeiras.

O ouro, por sua imediata e indiscutível conversibilidade na maioria das moedas do mundo, é igualmente aceito como ativo de reserva, embora o seu emprego para esse fim se dê em proporção muito menor do que a praticidade das moedas e dos títulos das dívidas soberanas. Mas ainda é um porto seguro em meio à tormenta.






Papel e dólar


Em plena era digital, a velocidade em que se processam os negócios internacionais exige a transferência eletrônica de numerário. O custo e os riscos do transporte e da guarda de toneladas de barras de ouro somente são assumidos quando orientados por decisão estratégica pontualmente conveniente.
 
No Brasil, por exemplo, a participação do ouro físico é proporcionalmente pouco expressiva na composição das reservas de mais de US$ 350 bilhões, mesmo após as compras recentes pelo Banco Central. A maior parte é formada por títulos conversíveis na moeda norte-americana, além de dólares depositados em bancos centrais de vários países, bem como no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Compensações Internacionais (BIS), com sede na Suíça.
 
O metal já teve papel mais importante como reserva de valor na economia mundial. Após os Acordos de Bretton Woods, firmados em 1945, muitas moedas eram lastreadas em ouro, especialmente o dólar norte-americano. A partir dessa época e apoiada no grande crescimento da economia dos Estados Unidos, a moeda daquele país ganhou a condição de referência em praticamente todas as transações do comércio e das finanças internacionais.




 
Essa condição é mantida até hoje, mesmo depois de um ato do governo dos Estados Unidos, que, em 1971, extinguiu a conversibilidade obrigatória do dólar em ouro. Apesar dessa mudança, as reservas cambiais da maioria dos países continuam a ser denominadas majoritariamente na moeda norte-americana.

Nova crise


Embora o BC nada tenha comentado, a atual decisão de aumentar a participação do ouro físico nas reservas brasileiras demonstra cautela e previdência diante do cenário mundial. Há indícios persistentes de que pode ocorrer proximamente uma nova crise e, apesar do início da recuperação da economia mundial, a conjuntura internacional pós-pandemia inspira cuidados no plano financeiro.
 
As dívidas da maior economia do mundo, a dos Estados Unidos, agravadas pelos efeitos da pandemia, já correspondem a 107% do Produto Interno Bruto, o que gera pressão inflacionária. Além disso, o FED (banco central local) vem inundando a praça com a emissão de dólares e com a compra antecipada de títulos do tesouro. A inflação nos Estados Unidos já passa dos 5% ao ano e a desvalorização da moeda mais importante do mundo tende a se manter.
 
A situação na zona do euro não é muito dife- rente. O Banco Central Europeu também vem emitindo moeda e adotando medidas de estímulos financeiros. No início deste mês, ao fazer a revisão quinquenal da política monetária do bloco de países-membros, decidiu flexibilizar a meta de inflação anual de 2% por período indefinido.

Ninguém arrisca uma data para a eventual crise das dívidas soberanas engrossadas pela pandemia. Ela pode nem ocorrer, mas o pior é não estar nem um pouco preparado.




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