Jornal Estado de Minas

PEDRO LOBATO

A economia mundial perde força e vai muito mal, com guerra prolongada

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A economia mundial vai mal. Hoje, 76 dias após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, já se sabe que o mundo terá de conviver por mais tempo com esse conflito e com suas consequências nos mercados de commodities energéticas e alimentares. A escassez e a disparada dos preços desses insumos e mercadorias em praticamente todo o mundo agravaram os desarranjos que a crise sanitária tinha provocado nas cadeias de suprimento. Tais desarranjos seriam superados ainda no primeiro semestre de 2022, conforme a maioria das projeções mundo afora.



Mas esse processo de recuperação tem sido lento e, como se não bastasse, severos lockdowns voltaram a ser praticados em grandes cidades da China. Em Xangai, por exemplo, maior porto exportador do mundo, centenas de navios estão ancorados, implicando desabastecimento de milhares de produtos e insumos industriais aguardados em vários países.

Esse cenário ainda não autoriza a expectativa mais pessimista de que a economia mundial possa entrar em recessão, mas indica sérias perdas, inclusive em países desenvolvidos como os Estados Unidos e os da União Europeia, além da China. E tudo isso tem provocado uma onda inflacionária como não se via há pelo menos 40 anos.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), essa situação tende a se agravar nos próximos meses, já que os bancos centrais de vários países estão sendo obrigados a tomar medidas de contenção da inflação. O aumento do custo do dinheiro, em decorrência dessas medidas, tende a frear a retomada do crescimento, que mal tinha começado no período pós pandemia.



Em sua última edição (publicada em 19 de abril) do World Economic Outlook, respeitado relatório com projeções sobre o desempenho da economia de cada país, o FMI reduziu pela segunda vez em 2022 sua expectativa de crescimento da economia mundial para este ano. Desta vez, o corte foi de quase um ponto percentual (0,8), baixando o índice de crescimento de 4,4% para 3,6%, muito distante dos 6,1% apurados em 2021.

A China, duramente afetada pelos novos lockdowns, tem previsão de crescimento reduzida para 4,4% este ano, depois de um crescimento saudável de 8,1% no ano passado. Já nos Estados Unidos, a situação não é menos complexa. O país vive uma inflação recorde e a autoridade monetária pode ter demorado demais para reagir, deixando a política monetária frouxa até a semana passada.

Agora, boa parte do mercado questiona a velocidade das medidas anunciadas. Afinal, enquanto a inflação na maior economia do planeta já bate nos 8,5% ao ano, a mais alta dos últimos 40 anos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos americanos) aprovou um aumento de apenas meio ponto percentual na taxa básica de juros, elevando-a para um intervalo entre 0,75% a 1%.






POLÊMICA

Mais dois aumentos serão aplicados ainda este ano, de 0,5 ponto percentual cada um, mas, ainda assim, fica evidente a lentidão com que a taxa básica dos chamados fed funds reage aos índices inflacionários. Nem mesmo o anúncio de que o Fed vai iniciar em junho o processo de inversão da política de injeção de liquidez na economia americana, que vinha sendo praticado ao longo da pandemia da COVID-19, acalmou o mercado.

Essa inversão começa pela suspensão das compras mensais de títulos da dívida pública (Treasuries e hipotecas), que resultou na ampliação do balanço do Fed em US$ 5 trilhões, e continua com a venda de ativos a partir do mês que vem.

O mercado teme que esse ritmo de ajuste das taxas de juros seja lento demais para conter a disparada dos preços, lembrando que a meta de inflação para este ano nos Estados Unidos, que é de 2% ao ano, está cada dia mais distante.



Na média das opiniões, os agentes do mercado financeiro americano esperam que a taxa básica de juros feche 2022 em 3% ao ano e chegue a 3,5% em meados de 2023. É bom lembrar que isso poderia provocar uma corrida pelo dólar, capaz de causar estragos nas economias emergentes, como a do Brasil. Não é, portanto, sem razão que os analistas mais atentos estão de olho no que fará o Fed nos próximos meses.


E O BRASIL?

Em meio a todo esse cenário de desaceleração econômica mundial, como fica o Brasil? De volta ao relatório do FMI sobre as perspectivas de crescimento em 2022, vamos encontrar uma novidade que, curiosamente, muitos economistas brasileiros, não viram ou ignoraram: o Brasil é uma das gratas exceções.

Faz sentido. O FMI considera que os grandes produtores e exportadores de alimentos, assim como os fornecedores de petróleo e gás, podem sofrer menos com a conjuntura mundial. Mais do que isso, podem até se beneficiar com a alta dos preços das commodities que exportam.

Assim, apesar da inflação, que também obriga nosso Banco Central a aumentar os juros, o FMI elevou de 0,3% para 0,8% sua previsão de crescimento da economia brasileira em 2022. E essa revisão começa a ser feita também por analistas nacionais, a partir da retomada do setor de serviços e da expansão do crédito. Ou seja, embora os ventos que sopram do hemisfério norte sugerem mau tempo para a economia mundial, o Brasil pode acabar se saindo bem.