Jornal Estado de Minas

PEDRO LOBATO

A economia brasileira reage. Só não vê quem não quer

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Atribuída a Tom Jobim, a frase “o Brasil não é para amadores” vinha sendo usada exclusivamente para justificar as derrapadas (cada dia mais frequentes) dos que se metem a opinar sobre os arranjos e desarranjos da política nacional. Hoje, a inspirada sentença de nosso maior músico popular pode ser estendida à economia e aos seus noveis profetas.



Quem dá mais valor aos fatos do que às versões costuma buscá-los nas fontes primárias de informação. Por elas, já se percebiam, nos últimos dois meses, os primeiros sinais de retomada da atividade econômica no Brasil, apesar dos maus ventos que sopravam e ainda sopram na conjuntura internacional.
 
Na semana passada, vários fatos que confirmam essas boas impressões sobre a economia brasileira foram oficialmente divulgados. Pelo menos três deles merecem atenção especial, desde que observados em um mesmo contexto. Dois deles – a queda do desemprego e o crescimento do setor de serviços – permitem uma análise do presente. O terceiro – a deflação – avaliza uma expectativa de curto prazo.
 
Medida em junho pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, a taxa de desocupação caiu de 11,1% para 9,3% no segundo trimestre de 2022. Houve, portanto, uma redução de 1,8 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre deste ano e de expressivos 4,9 pontos percentuais ante o segundo trimestre do ano passado, quando a taxa tinha sido de 14,2%.




 
Um detalhe importante: esse recuo na taxa de desocupação ocorreu em 22 dos 26 estados e no Distrito Federal. Nas demais cinco unidades da Federação, permaneceu estável. Ou seja, não se trata apenas de um aumento pontual de postos de trabalho nas regiões mais dinâmicas do país. Ele é mais abrangente e parece indicar uma tendência de consolidação da recuperação do mercado de trabalho brasileiro que, há anos, não registrava taxa de desocupação em patamar abaixo de dois dígitos.
 
Ainda são altas as taxas de informalidade e de subutilização da força de trabalho do país, o que explica em parte a redução do rendimento médio mensal do trabalhador, ainda não recomposta desde a recessão econômica do biênio 2015/2016. Essa recomposição é mais lenta do que a do nível de emprego, já que, além da manutenção do crescimento da atividade econômica, ela também depende do aumento da produtividade de cada setor.
 
Por falar em crescimento, não é por outra razão que a taxa de desocupação recuou para 9,3% no trimestre encerrado em junho – a mais baixa em muitos anos. Contrariando a média das previsões para 2022, a economia brasileira está crescendo, apesar das dificuldades que o mundo enfrenta neste período de pós-pandemia e de guerra na Ucrânia.




Setor de serviços

Como se sabe, na maioria das economias do mundo moderno, o setor de serviços é o que tem mais peso na formação do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, não é diferente. Os serviços respondem por cerca 65% de toda geração de riqueza do Brasil.
 
Além disso, esse setor é, de longe, o que mais emprega mão de obra em nosso país, estabelecendo um círculo virtuoso que, no caso de lockdown, torna-se vicioso: milhões dependem dele para ganhar o pão, enquanto ele é o que mais depende da renda de milhões de pessoas para se manter aberto e crescendo.
 
Foi, então, uma boa surpresa a divulgação, pelo IBGE, na sexta-feira, de que o volume de operações do setor de serviços havia crescido 0,7% em relação ao mês anterior. Com isso, o setor consolidou sua recuperação pós-pandemia, ao alcançar o patamar de 7,5%, muito acima da média das previsões e superior ao nível de suas operações realizadas em fevereiro de 2020.




 
Também nesse caso não se tratou de uma bolha localizada em um ou outro segmento. Das cinco atividades que compõem o setor, quatro cresceram e apenas o segmento de informação e comunicação teve desempenho negativo de 0,2%.
 
No grupo dos serviços que cresceram em junho, o segmento que deve ser analisado com mais atenção é o de transportes, que teve aumento de 0,6%. Afinal, o transporte está nas planilhas da maioria das atividades produtivas. Ou seja, se houve aumento do volume transportado é porque a roda da economia está acelerando seu giro.

Impacto 

O aumento do número de brasileiros trabalhando, o crescimento do setor que mais pesa no PIB e a queda da inflação, ainda que passageira, impactaram os cálculos de economistas, empresários e agentes do mercado financeiro. É gente que tem a responsabilidade de administrar ativos de empresas e de famílias. Por isso mesmo, eles já estão refazendo suas contas, revendo suas previsões.
 
Para os que os ainda não se deram conta de que a economia brasileira está reagindo, esta semana começou confirmando os dados positivos da semana passada. Desta vez, foi o Banco Central que divulgou as novidades.  
 
Primeiro: o Boletim Focus, que resume as expectativas de 100 agentes financeiros privados, reviu para baixo a inflação, de 7,11%, para 7%. Mais tarde, o Índice de Atividade Econômica (IBC-BR), espécie de prévia do PIB, indicou crescimento de 0,69% em junho, acumulando 2,18% em 12 meses. Só não vê quem não quer.