Esta semana, a última antes da abertura das urnas do segundo turno da corrida presidencial, não será movimentada apenas pelo calendário eleitoral. A economia também está recheada de expectativas, com uma agenda de decisões no campo da política monetária e com a divulgação de dados relevantes sobre emprego, crescimento, inflação e juros.
Nesta terça-feira, será conhecida a mais importante prévia da inflação mensal medida pelo IBGE. Trata-se do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), um levantamento de igual abrangência do IPCA mensal, mas em período diferente. Enquanto o indicador mensal analisa a variação dos preços do primeiro ao último dia de cada mês, o IPCA-15 vai do dia 16 de um mês até o dia 15 do mês seguinte.
Essa diferença permite uma visão antecipada da marcha dos preços em cada mês. Em setembro, por exemplo, o IPCA-15 revelou uma queda de 0,37% em relação ao mês anterior, antecipando a tendência de que haveria um terceiro mês de deflação, o que acabou se confirmando.
Para o IPCA-15 de hoje, a expectativa é de que a deflação, se houver, será menor, uma vez que os preços dos combustíveis já teriam batido no piso, enquanto os de outros itens, incluindo alimentos, oscilaram levemente. Trata-se de dado importante para o posicionamento do mercado financeiro, quanto aos juros a serem praticados em suas operações.
A propósito, o Boletim Focus, publicado semanalmente pelo Banco Central (BC), resumindo as previsões de uma centena de agentes desse mercado, indicou ontem a manutenção, pela 18ª semana consecutiva, de um otimismo moderado em relação à inflação. A média das expectativas para o IPCA no fim deste ano baixou de 5,62% para 5,60%.
Igual otimismo foi registrado pelo Boletim Focus nas projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022: passou de 2,71% para 2,76%. A combinação dessas duas previsões, ou seja, a queda continuada da inflação e o crescimento lento da economia brasileira poderiam sugerir, em condições normais, um afrouxamento na política monetária, ou seja, o início de um ciclo de baixa da taxa Selic.
Contudo, ninguém espera que o Banco Central decida amanhã, no encerramento da reunião iniciada hoje do Comitê de Política Monetária (Copom), por um corte na taxa básica de juros. Na última reunião, em 21 de setembro, a autoridade monetária deu por encerrado o ciclo de elevações da taxa Selic, mantendo-a em 13,75%.
CICLO DE ALTAS
É, sim, uma das mais altas do mundo. Mas é graças a ela e ao fato de nosso BC ter sido o primeiro a iniciar o tal ciclo de altas que a autoridade monetária do Brasil não para de receber elogios de organismos internacionais de planejamento e condução de política econômica.
Isso se deu porque os bancos centrais de economias importantes como as dos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Japão e outras, demoraram a reconhecer que nada tinha de leve ou de passageira a inflação resultante dos desarranjos provocados pelos lockdowns da pandemia da COVID-19 e pelos gastos públicos para combater a doença. A guerra na Ucrânia só fez agravar a situação econômica da maioria dos países.
Na reunião de amanhã, o Banco Central deverá permanecer em seu propósito, já anunciado, de manter a taxa no patamar atual, até que a inflação ceda e conclua a convergência de volta à meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Na verdade, esse propósito tem mais a ver com o próximo ano, já que, em 2022, mesmo com o forte aperto monetário adotado, o centro da meta anual (3,5%) foi muito ultrapassado e mesmo o teto de tolerância (5%) dificilmente será alcançado. Para 2022, o CMN manteve os níveis definidos há dois anos: 3,25% ao ano, com tolerância de 1,5% para cima ou para baixo.
A manutenção pelo governo dessas metas a despeito das excepcionalidades atuais – pós-pandemia e efeitos de uma guerra – tem o propósito de, por meio do CMN, transmitir à sociedade seu compromisso com o combate permanente à inflação. Já o Banco Central, como autoridade monetária independente, procura sinalizar aos agentes do mercado financeiro e à economia em geral sua disposição de não perder de vista as metas de inflação e de usar todas as ferramentas de que dispõe para cumpri-las.
DESEMPREGO
Mas a semana não acaba na quarta-feira. No dia seguinte, 27 de outubro, o IBGE divulga mais um dado fundamental para se medir o desempenho da economia: o nível de ocupação da mão de obra. Serão conhecidos os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua de setembro.
A pesquisa levanta e compara as informações das famílias entrevistadas sobre o número de pessoas que deixaram de procurar trabalho, seja por já haver encontrado um, seja por ter desistido de procurar. Desde março de 2021 (em plena pandemia) quando a taxa de desocupação chegou a 14,9%, a pesquisa tem mostrado curva declinante.
Em agosto, havia baixado para 8,9%. Para setembro, o que se espera é que esse nível tenha apenas se estabilizado e, não, que tenha voltado a crescer, em razão dos primeiros efeitos do aperto monetário. Na hipótese negativa, teremos o preço a pagar para frear a inflação alta. Será um novo alerta de que nunca vale a pena permitir que ela volte.