Jornal Estado de Minas

MÍDIA E PODER

Exército não poderia punir quem mandou Pazuello transgredir o regulamento



Passou ao largo de toda a análise sobre a transgressão do ex-ministro Eduardo Pazuello e a decisão do Exército de não puni-lo o fato de que ele não agiu de livre e espontânea vontade.





Para puni-lo, seria preciso descobrir quem mandou e se chegaria em quem o Exército não pode punir, o comandante em chefe das Forças Armadas, nada menos que o presidente da República.

Foi Jair Bolsonaro quem mandou Pazuello subir e saudar os motociclistas da motosseata que gerou o imbroglio, conforme relatou espertamente a defesa de Pazuello no inquérito aberto pelo Exército, arquivado ontem.

O artigo 57 do regulamento disciplinar, que dá base a todos os argumentos para puni-lo, sob pena de desmoralização da disciplina e da força terrestre, estabelece que o militar na ativa não pode participar de manifestação político-partidária, salvo quando autorizado.

“Manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária.”

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A linha de defesa deve ter sido a mesma do presidente, que, logo depois da má repercussão, proibiu as Forças Armadas de emitirem qualquer nota a respeito. Imagino que tivesse dito:

- Foi eu que mandei.; Quem tem que ser punido sou eu. - E para os próprios botões: - Vão encarar?

Quem pode mandar nas três forças e no comandante dela, pode mandar em um dos seus subordinados, claro. Quem pode 100, pode um.





É bem possível que o Bolsonaro que impôs também negociou.

Ele não foi ao Amazonas dias depois apenas inaugurar uma ponte de 18 metros de madeira construída pelo Exército, mas para colocar no mesmo avião os chefes das três forças, inclusive o direto de Pazuello, o comandante Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, a quem caberia formalmente o arquivamento do inquérito.

Entre as turbinas e durante a inauguração, claro que conversaram a respeito e é bem provável que Bolsonaro tenha oferecido gentilezas em troca da cabeça do amigo que derrapou no Rio de Janeiro, empurrado por ele e nomeado em novo cargo algumas semanas depois. No discurso de inauguração, ampliou os afagos.

O que pode ser pior do que supõe a vã filosofia de toda a análise publicada ontem, de jornalistas a políticos a celebridades.

Pior do que mandar um subordinado descumprir a lei para afrontar as instituições, se for verdade, o presidente também parece saber colocar panos quentes, como qualquer velha raposa política que tira a meia sem descalçar o sapato.





Mais estratégico e menos sanguíneo do que se supõe, sabe morder e assoprar. Avança e recua, até conseguir o que quer. O que o torna mais perigoso, a se dar crédito às evidências de que namora com um golpe.

Diante da ordem de não publicar qualquer nota, da determinação, pedido ou troca de gentilezas para não punir o insubordinado, o Exército, claro, afinou. E abriu um flanco de alto risco para afinar de novo.

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