Há poucas semanas, li sobre duas estratégias petistas para amenizar as principais fragilidades da campanha de Lula, nos meios e no discurso.
Seu instituto começaria um tipo de curso para formação de lideranças no manejo mais competente das redes sociais e ele teria recomendado à militância esquecer a pauta de costumes e não cair em provocações da militância bolsonarista.
- Não vamos cair em armadilhas - disse a um grupo de correligionários, ao lembrar que os temas são caros às esquerdas, mas que não serão determinantes nessa campanha como foram em 2018.
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Como vox lula vox dei, já se percebe uma baixa de guarda a respeito desses temas no tribunal da internet, ao mesmo tempo em que ele passou a enfatizar em toda oportunidade a questão em que é autoridade na nossa história política, o combate à fome.
Não perde oportunidade de puxar qualquer entrevista ou palestra para o tema, do qual fez piece de resistance no samba que deu nas mais de duas horas da entrevista de alta repercussão ao Podpah.
Entre dados estatísticos, metáforas exuberantes e suas experiências de faminto na infância, voltou a se vender como quem acabou com a fome no país e teria condições de eliminá-la de novo. Ainda que não tivesse de fato acabado totalmente, quando deixou o governo.
Para além da inadequação da apologia de costumes que só a esquerda não via, porque é da sua natureza só falar para si mesma, ele já deveria estar percebendo com seu faro de águia o que anda nas bocas, anda nos becos, estão falando alto pelos botecos.
E voltou às pesquisas eleitorais como o principal problema para o brasileiro. Muito acima da questão da saúde suscitada pela pandemia e da corrupção, que foi carro-chefe da campanha de Bolsonaro contra o PT, entendida não só como financeira quanto de costumes.
O diretor do DataFolha, Mauro Paulino, lembrou muito bem a O Globo que quase metade da população, que tem renda de até dois salários mínimos, reduziu a compra de frango, legumes, feijão e laticínios, enquanto muitos sequer conseguiram substituí-los por ovo.
- Isso quer dizer que a grande maioria, que decide a eleição, está tentando sobreviver. Quanto mais pobre o eleitor, mais pragmático é o voto. (...) Esse eleitor vai escolher o candidato que mostrar mais condições e vontade política para resolver isso.
É algo que vai mais fundo do que mostra o noticiário sobre inflação com recessão encomendada pela farra dos gastos públicos aprovados pelo Congresso, em parceria com o governo, sobre o pano de fundo de pobres catando comida no lixo. E evoca os bons tempos de Lula.
Bolsonaro, que tem lá seus instintos enviesados mas da mesma cepa de quem fareja voto ou a falta dele, não empreendeu à toa a guerra do Auxílio Brasil que vai piorar as contas públicas.
Precisa dele para tentar ofuscar a fama do Bolsa Família e equilibrar o jogo com Lula na disputa pelos pobres. Ainda que seja muito difícil, mesmo com a mais competente das campanhas de marketing.
Nos últimos dias, como quem vem sentindo o tranco, ensaiou justamente uma guerra de costumes para ver se acende a militância nos propósitos que lhe deram a vitória na eleição de 2018.
Aproveitou a campanha por André Mendonça no STF para ressuscitar o discurso de mais conservadores na Corte e empreendeu nova batalha contra restrições coletivas ou individuais pela obrigatoriedade da vacina.
Atacou os passaportes vacinais e eventuais lockdowns, tanto quanto as prisões arbitrárias e tentações de censura do ministro Alexandre de Moraes, para repisar seu conceito de liberdade, cabo de guerra de seus ataques à esquerda progressista.
Com nenhum sucesso, por enquanto. Sua militância, como a de Lula nas redes sociais, parece mais preocupada com o inimigo mais imediato, Sergio Moro.
Que vem se consolidando na terceira posição nas pesquisas e trabalha com a hipótese não desprezível de chegar a 15% em dezembro e a 18% em março. De onde vislumbraria a possibilidade de tomar o lugar de Bolsonaro na disputa com Lula no segundo turno.
Apesar de suas inúmeras limitações, de forma e conteúdo, ele é o pior adversário que ambos poderiam ter. Odiado pela militância dos dois lados, encarna contra qualquer dos dois a ideia de plebiscito contra um monte de coisas que o eleitorado majoritário não quer.
Com ele, pode até ser que a fome fique em segundo plano. Que o combate à corrupção em que ele é autoridade indiscutível se sobreponha como uma outra forma de combater a miséria em que o país está atolado, em todos os sentidos.
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