Exponho minha opinião de pai, sujeita aos exageros do coração que o cérebro desaconselha. Se emito, é porque neste momento considero a dos cientistas sem filhos, que decidem pela vacinação em massa de crianças de 5 a 11 anos, também suspeita.
Antes de mais nada, declaro perante o tribunal da internet e seus eventuais canceladores formais ou informais que defendo até a morte qualquer vacina, sobretudo a anticovid.
Ela, a máscara e o isolamento pessoal constituem minha tríade religiosa contra a doença, como o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Tomei as três e tomaria a quarta.
Não tenho dúvidas de sua eficácia e entendo seu custo-benefício em relação aos efeitos colaterais, diante dos resultados favoráveis acachapantes para estancar a maior tragédia sanitária da humanidade.
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Pela simples, boa e primeira razão de que os cientistas na imprensa, no governo e nos órgãos de saúde mundiais ainda não me convenceram de que seus benefícios sejam superiores aos riscos.
Por relativizarem a informação principal que enche de terror um pai como eu, de um filho de oito anos, saudável, de risco quase zero de contaminação por forma mais grave, que não quer submetê-lo a ameaças que estão embutidas e sofismadas em artigos, entrevistas e comunicados oficiais.
Pelo que leio, interpreto e especulo a partir de entrevistas de especialistas, documento de médicos apresentado à Anvisa e da própria fabricante Pfizer à FDA, a Anvisa americana, me assombra o seguinte:
1- A vacina da Pfizer aumenta de 2 para 18,5 a taxa de miocardite e pericardite, inflamações respectivamente do músculo e do revestimento do coração, em cada 100 mil crianças e jovens até 24 anos, 37,5 em meninos, segundo um estudo com adolescentes de 12 a 17 anos, em Hong Kong, divulgado agora em novembro e checado pela AFP.
2- A fabricante admitiu ao FDA, a Anvisa americana, que precisará de mais "cinco estudos de segurança pós-autorização, incluindo um de acompanhamento de 5 anos para avaliar as sequelas a longo prazo da miocardite/pericardite pós-vacinação". A própria Anvisa divulgou alerta em 9 de julho sobre os riscos do desenvolvimento dessas doenças após a segunda dose.
3- A vacina é anterior ao surgimento das novas variáveis do vírus, Delta e Omicron e, neste sentido, já estariam superadas, se fossem necessárias.
4- Não parecem ser. Crianças de 5 a 11 anos não desenvolvem e nem transmitem formas graves da doença. O número de mortes na faixa é ínfimo e relacionado a comorbidades. Minas Gerais teve 50 mortes (26 em em bebês com até 1 ano) e Belo Horizonte, cinco em 200 mil crianças a considerar a pirâmide etária do IBGE, certamente menos de várias outras doenças. A baixa incidência de infeção e mortes já foi usada várias vezes para justificar a volta das crianças às aulas, antes de outras faixas etárias.
5- A vacinação nessa faixa significa que você vai colocar um filho saudável no risco de desenvolver uma doença para o qual ele não tem predisposição. Se a taxa de incidência de miocardite/pericardite em tempos normais é de duas crianças, o salto para 18 em 100 mil significa que outras 16 serão submetidas a risco desnecessário. Transpondo para a capital, se 4 crianças em 200 mil podem ter miocardite/pericardite, a vacinação elevaria esse número para 37. Se meninos, 75. Vamos pagar o erro de aumentar o número de crianças afetadas por uma doença complicada.
Apesar disso, você não viu e não verá nenhuma manchete em jornal ou revista impressos, site ou jornal de TV, destacando o risco real de desenvolvimento dessas doenças em crianças vacinadas. Tipo, no bom jornalismo: "Vacinação contra covid pode aumentar risco de miocardite em crianças".
Na longa reportagem que fez domingo no Fantástico para dar voz aos técnicos da Anvisa massacrados nas redes sociais por ativistas alimentados por Jair Bolsonaro, a repórter Sônia Bridi passou longe da pergunta fatal:
— E a miocardite?
E de outra que, como pai, eu não deixaria passar:
— Se o senhor tivesse filho na faixa de 5 a 11 anos, aplicaria sem medo?
Ainda que minhas considerações de pai estejam turvadas pelo medo, os estudos contra possam ter suas falhas e essas duas doenças potenciais possam ser combatidas de forma simples, eu queria mais informação do que a disponível.
Uma exposição mais clara, voluntária e sem sofismas dos especialistas e autoridades sanitárias do governo. Que, chamados a se manifestar, oferecem sempre, na ponta da língua, a platitude de que "os benefícios são maiores que os riscos". Quantas vezes você já leu/ouviu isso?
Quando instados a sair da zona de conforto e da platitude, por alguma provocação de Jair Bolsonaro, uma decisão da Justiça ou pelo ativismo venenoso das redes, apelam a comparações de base técnica obscura e algum ativismo. Como a de que outros países já aprovaram a vacina ou de que o interesse coletivo se sobrepõe ao individual.
Como se aprovação de algo que ainda não foi testado em massa, como no caso das outras faixas de idade, fosse atestado de eficiência indiscutível. E eu tivesse que submeter meu interesse individual a um coletivo que acabaram de inventar, já que as crianças, comprovadamente, ainda não foram afetadas o tanto que justifique uma vacinação em massa.
Se os estudos alarmantes são discutíveis e sujeitos a confirmações, por que a dúvida sobre eles, antes de estudos mais profundos, não deveria merecer o mesmo crédito? Se o argumento da vacinação em massa é defensável, por que a desconfiança de outros médicos e especialistas sobre ela também não seria?
Ou por outra: se há dúvida considerável de profissionais sobre seus riscos e outra sobre a utilidade da aplicação nessa faixa, por que a primeira dúvida deve prevalecer? Onde está o risco/benefício se não parecem estar claros nem o risco e nem o benefício?
Como pai, que tem um filho real e não estatístico de oito anos, eu duvido de ambos. Preciso de manchetes e explicações mais claras a respeito e que os cientistas me digam sem subterfúgios do que realmente se trata:
— Olha, se seu filho se vacinar, ele aumenta em nove vezes a possibilidade de desenvolver uma miocardite ou uma pericardite. Ou não. Não posso garantir nada.
— Pode morrer? — eu perguntaria
— Pode ou não — diriam.
Ao que eu retrucaria:
— E, diante de tantas dúvidas, por que eu deveria vaciná-lo?
Certamente, eles devolveriam com a platitude de que é pelo interesse coletivo e para o bem da humanidade, a que meu interesse individualista não pode se sobrepor.
Entendo que os médicos, especialistas e cientistas não podem garantir o que não sabem ou sobre o qual têm muitas dúvidas. Se têm, por que garantem?
Problema é que, quando se é pai real e não um técnico examinando planilhas na FDA e na Anvisa, possivelmente sem filhos alegres os esperando em casa depois da janta, uma doença ou morte por uma ação desnecessária, ou no mínimo duvidosa, é muito.
O custo-benefício é zero. A proporção não é de duas ou 18 ou 37 em 100 mil, mas de uma em 7,5 bilhões. A morte do meu filho é única e transpira em mim toda a humanidade. Não vale as outras 7,5 bi.
Quem aprova vacina ou manda o governo aplicar, como o ministro do STF Ricardo Lewandovski, se tiver filho da mesma idade que o meu, que se apresente com melhores argumentos. E, por favor, Alexandre Kalil, se for vacinar, como devem acabar lhe obrigando, pense muito antes de baixar normas me proibindo de levá-lo à escola.
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