Estava escrito nas estrelas que a candidatura de Sergio Moro à Presidência não teria muito futuro em qualquer partido, por, pela ordem, falta de carisma, articulação e dinheiro.
Seus 10 a 15% de votos lhe dariam, pelo menos, um papel relevante em troca de alguns frutos no futuro. Uma composição no segundo turno em troca de qualquer coisa, quem sabe até uma vaga no STF.
Mas uma sequência de movimentos erráticos de dar dó, de inabilidade de estagiário, fulminou o que lhe restava de credibilidade para se colocar como uma das alternativas em jogo, qualquer uma.
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STF fez com Daniel Silveira a política que deputados deveriam ter feitoBolsonaro tem mais perspectivas de crescer nas pesquisas do que LulaA saída de um partido que o abraçou contra toda a resistência da classe política, pouco mais de três meses de afiliado, teve status de traição. Ter saído por mais dinheiro em campanha, depois de tê-lo feito queimar mais de R$ 3 milhões em sua pré-campanha, o de desonestidade.
Como disse mais ou menos o senador que o patrocinou dentro do Podemos desde sempre, Álvaro Dias, trocou por dinheiro o que deveria ser uma campanha por princípios.
Sim, Sergio Moro era uma ideia que sugeria resistência e dependia só de aprovação popular para se viabilizar. A aposta é que virasse onda se crescesse nas indicações nas pesquisas. Não sendo isso, não seria — não valeria a pena — ser outra coisa.
Sua inabilidade crônica ainda o levou para o caminho errado, o União Brasil, um ninho de cobras dominado por caciques gulosos que sinalizaram desde antes de assinar a ficha que não o queriam como candidato a presidente.
Tivesse alguma experiência, não confiaria apenas na palavra do presidente da legenda que o atraiu, Luciano Bivar. Teria percebido no mínimo que, além de não ter autoridade plena no partido, ele tem interesses prioritários com a sua cacicagem.
Que passam por ser ele mesmo o candidato a presidente preferencial do partido, para gastar menos, liberar dinheiro para formar uma boa bancada de deputados e ampliar seu naco no fundo eleitoral. Perder, mas negociar apoio no segundo turno e no futuro governo.
Como o pintor que lhe tiraram a escada, Moro entrou num processo que beira a vexame de continuar defendendo a candidatura presidencial que não está autorizado a querer.
Um quarto erro seguido de um quinto: a recusa suicida de sair candidato a deputado federal — a condição colocada pelas correntes influentes do partido para aceitá-lo como puxador de votos em São Paulo.
No estágio em que está, sugere um zumbi de figuração na cerimônia de 18 de maio em que os quatro partidos mais ou menos afinados da terceira via — União Brasil, PSDB, MDB e Cidadania — prometem anunciar um nome único.
Como uma espécie de The Walking Dead também, a famosa série de mortos vivos a caminho de devorar os sobreviventes de uma América pós apocalipse. Tentam dar vida a candidatos também meio mortos-vivos, no sentido de que não têm apoio interno, legitimidade ou interesses em comum.
Moro já nem aparece nas pesquisas eleitorais, barômetro de suas possibilidades, e Bivar não é hipótese de uma candidatura nacional catalisadora. Sequer é considerado também nas pesquisas.
Leite é o concorrente de Doria que perdeu a convenção com a qual concordou e depende da boa vontade dele, que não terá, de abrir mão. Teria que explodir nas pesquisas em 40 dias para chegar a 18 de maio tão relevante quanto Doria o contrário. Nenhuma das duas coisas parece fatível.
E Simone Tebet, a mais engraçadinha, promissora e ideal da trinca, depende do MDB, o partido meio parasita que nunca lançou candidato a presidente da República, depois de Ulysses Guimarães, em 1989. Preferiu sempre manter o pé nas duas canoas mais promissoras e mandar depois no governo, seja qual for, sem os ônus do cargo.
A seu modo histórico, o partido a fritou recentemente na eleição para o Senado, quando tinha grandes chances de vencer Rodrigo Pacheco, de um partido também zumbi, o PSD.
A essa altura, esse MDB já tem alas definidas de apoio a Bolsonaro e a Lula, representadas nas figuras de seus caciques mais proeminentes, respectivamente Fernando Bezerra e Renan Calheiros.
Que não só têm seus interesses regionais alinhados aos dois líderes das pesquisas, como, ao modo de sempre, não querem um candidato que seja empecilho a suas tentações de acordos futuros. Como Simone.
Sem os três, restaria a hipótese bem improvável de que União Brasil, PSDB e Cidadania aceitassem um aliança em torno de João Doria. Eduardo Leite de vice ou candidato a senador por seu estado, com o prêmio consolação de vir a ser o presidente nacional do partido.
Independente de que João Doria tenha o direito moral de ser o candidato, porque aprovado nas prévias, ou falta de condições por alta rejeição, não há nenhum motivo suficientemente forte no horizonte de 40 dias para que ele abra mão para Eduardo Leite.
É curioso, sintomático ou puramente esdrúxulo que tenham antecipado a definição do candidato único com tantas arestas por aparar. Se foi para não dar tempo de crescimento a Doria nas pesquisas, esqueceram-se de que o tempo é também curto para que qualquer deles, sobretudo Eduardo Leite, se mostrem viáveis.
Está mais para um banquete em que vão entregar antes da hora a cabeça de boas personagens que deveriam continuar caminhando e juntar suas forças mais à frente. E ajudar a consolidar a ideia de que, depois da pajelança, restam apenas duas hipóteses na terceira via: Ciro Gomes e João Doria.
São os dois candidatos mais firmes e consistentes, de partidos enraizados, lançados e consolidados, para almejar alguma espécie de cunha na polarização entre os dois líderes nas pesquisas. E preparados em forma e conteúdo para quando tiverem sua hora, no calor da campanha.
Não vejo, de forma alguma, que a estabilização de Ciro e os 3% de Doria nas pesquisas sejam uma tendência como querem fazer crer seus concorrentes e adversários, dentro ou fora de partido. Não, antes de começarem a ter cobertura igual aos polarizados nos meios de comunicação.
Lamento por Simone, Leite e Sergio Moro, três figuras tão elegantes, idealistas e promissoras, pela encruzilhada sem futuro em que se meteram. Sobretudo por Moro.
Como já escrevi de diversas formas, acho uma indecência que tenha sido punido de forma tão pusilânime por ter feito o certo, destruído pela conjunção pavorosa de interesses da banda podre dos dois polos políticos que contrariou com os da cúpula do Judiciário que o transformou em pária. Como também já escrevi e reescrevi, nunca vão me convencer de que seus erros de natureza processual são da mesma dimensão dos crimes que julgou e puniu.
Embora o tenha chamado de estagiário em política e proposto desde a primeira hora que fosse candidato a senador por seu estado, defendi sua candidatura presidencial como espécie de revanche e palanque, para ter voz contra o universo que o triturou.
Não esperava que fosse mais inábil do que pressenti. Mas ainda torço para que mantenha a revanche e o palanque por outros meios. Aceite pelo menos a candidatura ao Senado, se ainda for possível e permitido pelo União Brasil, de que se encontra refém.
Chegando lá, trabalhe oito anos para desnudar o sistema que, do Congresso ao Planalto, passando pelo STF e as bancas de advocacia milionárias de Brasília, o espremeram na mais cruel das inversões de valores de que a crônica política recente pôde testemunhar.