Ao contrário de Lula, Jair Bolsonaro tem pelo menos três grandes fatos políticos que concorrem a seu favor e podem ser determinantes na eleição de outubro:
1 - O otimismo com a Economia
- Como em todo processo que só tem como rebater quando bate no fundo do poço e torna exuberante qualquer melhora, a economia dá fortes sinais de recuperação em empregos, entrada de capitais estrangeiros e explosão da bolsa.
- Não há sinal de recessão à vista. Embora economistas de respeito temam uma recessão a médio prazo, o período de campanha eleitoral ainda colhe o processo de recuperação pós-pandemia e fundo do poço.
- Certo otimismo como efeito colateral compensa a alta de preços escandalosa. Ao mesmo tempo que o bolsa família turbinado como Auxílio Brasil para R$ 400,00 tem o mesmo potencial de melhorar a imagem do presidente nas classes baixas, como ocorreu com o auxílio emergencial, no meio da pandemia.
2 - A divulgação de seus feitos na propaganda eleitoral de TV.
- Desde o advento do uso de imagens externas na propaganda eleitoral de TV dos candidatos à reeleição, do primeiro para o segundo mandato de FHC, a exuberância das obras em imagens hollywoodianas empurra os vitoriosos.
- Dilma Rousseff, sob bateria de acusações de inoperância e corrupção até a campanha, virou o jogo assim que surgiram as primeiras imagens ao modo João Santana de exuberância, sobretudo das obras de canalização do rio São Francisco, no nordeste. Que, aliás, frequentam esses programas desde que começaram, há quase 30 anos.
- Bolsonaro tem muita coisa a mostrar (exuberar?), como já sinalizou na série de propagandas espontâneas que ganhou da grande imprensa ao se viralizar com o competente ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas montado na garupa de sua moto, sem capacete.
3 - O apoio da grande maioria da classe política que puxa voto.
- Terminado o prazo da janela de mudança de partido, em março, Bolsonaro emergiu como um gigante do oportunismo político que, desde sempre, atrai parlamentares para o poder como moscas.
- Com a entrega do governo e da distribuição de verbas ao Centrão, arrastou partidos — e para os partidos que o apoiam — todo o espectro da centro direita política ramificada em todo o país, que arranca voto a unha pelo interior e arrasta prefeitos e vereadores numa força descomunal.
- Inchou em quase 70 deputados novos e para 168 o bloco das três agremiações principais de sua base (PL, PP e Republicanos) na Câmara. Com o apoio dominado de parte do MDB, do PSD e do PSDB, além de outros agregados informais (PTB, Patriota, Podemos, Pros e Solidariedade), tem favor os mais de 300 do Centrão que um dia Lula chamou de picaretas.
Bolsonaro conta ainda a favor com a memória tradicionalmente curta do eleitorado, que vem esquecendo o que ele fez no verão passado. Sua rejeição cai seguidamente à medida que os índices de controle da pandemia melhoram.
Lula é produto também da memória curta que o posicionou na ponta dos levantamentos depois de ter ido ao fundo do poço da desmoralização pública, nas eleições de 2018. Mas não tem qualquer fato novo político, que dependa dele, que o beneficie.
Ou força política que compense as boas perspectivas que não pode tirar do adversário. No velho sinal de que a falta de poder é sinal de morte, PT e os partidos de esquerda nada ganharam — e ainda perderam deputados — na janela partidária.
O mais promissor de seus fatos políticos, a atração de Geraldo Alckmin para construir uma frente ampla contra o que seria a ameaça bolsonarista, resultou num fiasco parecido com o da terceira via.
O tucano só arrastou ele mesmo e o PSB, o partido por natureza já arrastado por Lula desde sempre, junto aos outros satélites do PT que agregam pouco: Psol e PCdoB. É cruelmente sintomático que só o PSB tenha perdido dez deputados nessa legislatura.
A última tentativa de puxar algum partido significativo da centro direita desandou noutro fiasco, a adesão frustrada do Solidariedade de Paulinho da Força Sindical, ofendido por vaias do PT numa cerimônia pública.
Ainda que Lula consiga revertê-la, como fez com Alckmin depois de agressões muito mais virulentas do partido, a ameaça de rompimento da aliança sinalizou alguma coisa parecida com fuga de um barco que está afundando. Já raposa velha sempre aliada com quem ganha, Paulinho deve ter sentido cheiro de queimado.
Pesa mais que, contra fatos a favor, ainda podem advir vários negativos com a vocação sincericida da esquerda lulista para defender o contrário do que a sociedade de maioria conservadora quer ouvir: a chamada "pauta de costumes", um veneno eleitoral para, inclusive, muitos fisiológicos do Centrão que possam virar casaca para o petista.
Refém dessa base e sua pauta, que cativou ao modo de seita, Lula sempre afunda um pouco mais quando fala de aborto, direito de minorias, demarcação de terras indígenas (um índio no Ministério), reforma agrária, imposto sindical e controle de armas. Revive o "nós contra eles" típico dela.
(Quer experimentar? Diga para ruralistas que vai recolher as armas que Bolsonaro permitiu e faça uma pesquisa depois entre eles sobre as chances eleitorais de quem as tirou.)
De forma que o grande líder das pesquisas continua na ponta, mas pendurado num teto que não ultrapassa e de onde namora a queda a cada dia.
As mais recentes pesquisas detectaram o estreitamento da diferença com Bolsonaro, a caminho de um empate técnico com todo o jeito de chegar antes do início da campanha, em junho, ou daqui a pouco.
Uma compilação de seus resultados pelo Estadão confirma o mapa que vem se repetindo desde as eleições de 2006. A esquerda de Lula domina em larga margem do norte de Minas para cima, nordeste e norte. A direita, hoje com Bolsonaro, do centro-oeste para baixo.
O que também sugere o empate técnico que vem por aí é que, como desde então, Lula põe grande diferença no norte e nordeste, mas a perde nos estados populosos do centro, sul e sudeste.
É sintomático que já haja um empate técnico e indefinição no mais populoso deles, São Paulo, onde o petista tem os dois líderes das pesquisas para governador, Fernando Haddad e Márcio França.
Tudo daria certo para o projeto lulista, se se mantivesse a expectativa original de que Bolsonaro, com tanto tiro no pé, a ponto de negar as vacinas e relevar a morte, chegaria esvaziado, isolado e desmoralizado à campanha.
Mas ele agiu a tempo e reverteu a seu favor, por força própria ou das circunstâncias, os indicadores que sempre ajudaram a virar eleição no país: a economia, muita obra para mostrar e dinheiro a rodo para os políticos.