Jornal Estado de Minas

MÍDIA E PODER

O que mudou na última pesquisa Datafolha em que nada parece ter mudado

Do que leio, ouço e especulo sobre a Datafolha desta quinta e sua relação com as demais pesquisas divulgadas nesta semana:

  1. É verdade que o quadro geral de predisposição do eleitorado em relação a Lula e Bolsonaro se mantém inalterado. Não nos 18% de diferença pró-Lula do Datafolha, a mesma do levantamento anterior, mas nos 15% de um agregador de pesquisas muito consistente de O Estado de S. Paulo, que pondera o resultado de 14 institutos segundo seu peso com base, entre outras coisas, em metodologias, frequência e histórico de acertos.



  2. Também é verdade que a estripulia de Bolsonaro com os embaixadores que reuniu para desancar o sistema eleitoral brasileiro, num vexame diplomático internacional, não afetou em nada seu desempenho. Assim como Lula, que tem falado e errado cada vez menos, ganhou qualquer coisa com o bom comportamento. Continua valendo minha tese de que podem sair pelados na rua e roubar picolé de criança, que não alteram a predisposição de voto. Nada menos que 79% de seus eleitores estão decididos a votar neles, mesmo que batam em velhos. 

  3. Não é verdade, porém, que não tenha havido algumas mudanças. Bolsonaro já colhe uma melhora entre os mais pobres e as mulheres. Encurta a diferença para Lula nesses dois eleitorados em 5% e 3% respectivamente. Bolsonaro vai de 21% a 27% entre as mulheres. E Lula melhora seu desempenho entre os mais ricos. Reduz sua desvantagem em favor de Bolsonaro, de 12% para 8%.

  4. Embora pequenas, as alterações são significativas porque refletem resultados de esforços do presidente para melhorar sua imagem nesses dois públicos, com os benefícios da chamada PEC kamikaze (para pobres, donas de casa que compram gás, caminhoneiros e taxistas), num caso, e mais exposição da mulher Michele, no outro. Em contrapartida, sinaliza alguma quebra de resistência a Lula na elite econômica que começa a sair da moita, como ficou demonstrado no manifesto pela democracia, lançado pela Fiesp, de impacto ainda não apurado.



  5. É a campanha, estúpido. O que vai definir a vida dos dois é a competência de cada lado na campanha que começa no final do agosto, que coincide com um debate na Band, em que os dois líderes das pesquisas já teriam confirmado presença. É a partir daí que partidos, militância e propaganda formal ou informal de seguidores e cabos eleitorais, na rua e nas redes sociais, passam a fazer diferença. Até lá, como desde sempre, é natural que as diferenças vão se reduzindo até chegar a uma polarização mais acentuada na reta final.

  6. Continuo achando, como já escrevi neste artigo, que Bolsonaro tem mais pontos de venda, investimentos sujeitos ainda a apresentar resultados palpáveis que podem alavancar um pouco seus números: o pagamento a partir do dia 9 de agosto dos auxílios aprovados na PEC kamikaze, a redução no preço dos combustíveis em conjunto com a des-piora da economia e as obras de governo na propaganda de rádio e TV. Ajudou Dilma Rousseff e pode ajudá-lo. Lula depende só de proselitismo.

  7. Mas também sigo acreditando que o clima do tempo, o zeitgeist dos alemães, lhe é muito desfavorável. Ainda não tinha visto  desde a primeira eleição da redemocratização, no final dos anos 80, um presidente provocar tanta predisposição pessoal negativa no mainstream midiático, que continua mais influente que qualquer outro meio de comunicação sobre as impressões coletivas. É muito difícil acreditar que tenha tempo e empatia para virar a sociedade a ponto de convencê-la a dar-lhe uma segunda chance.