Para quem enxerga as coisas como eu, o rápido e incisivo estreitamento do espaço para investir no setor público está centrado, em boa medida, na disparada dos gastos e dos déficits previdenciários que, ultimamente, vêm sendo fortemente afetados por fatores demográficos, de difícil reversão, e tendem a zerar os investimentos em futuro próximo, caso ignoremos o assunto. Ou seja, o ataque aos déficits deverá estar na linha de frente das ações voltadas para a retomada dos investimentos e do crescimento do PIB.
A tentativa da fase Temer de controlar os gastos federais via um teto de crescimento igual à inflação, teto esse imposto constitucionalmente sobre o total despendido, produziu algum efeito no controle do gasto, mas atuando apenas sobre os demais gastos, logo se esgotou.
Tanto assim que o déficit financeiro absoluto anual das duas previdências é, somado, da ordem de R$ 200 bilhões anuais, enquanto, por segurado, é de R$ 55 mil na União, R$ 19 mil nos estados e R$ 2 mil tanto nos municípios como, pasmem, no INSS. Por sua vez, os passivos atuariais (ou a dívida dos entes públicos para com seus servidores) por segurado são de R$ 839 mil na União, R$ 454 mil nos estados e R$ 287 mil nos municípios. Haja desajuste...
Esse plano se baseia, principalmente, no aporte de ativos e recebíveis em geral em montante capaz de pagar a conta ou zerar os respectivos passivos atuariais. Essa é uma obrigação complexa e difícil de implementar, tanto assim que os entes subnacionais estão, por sua vez, obrigados pela Constituição federal a fazer isso há bastante tempo, mas resistem, e se arrastam em seu cumprimento. Para estes, outra dificuldade foi não os obrigar a adotar, automaticamente, a mesma reforma de regras imposta à União, cabendo-lhes batalhar caso a caso nas assembleias locais.