Dando uma trégua aos temas pesados como a COVID-19 e suas vítimas e as preocupações com a política atual, nós merecemos alegria, poesia, arte e literatura. Então, anunciamos o lançamento do livro Que não se esmaguem com as palavras as entrelinhas, pela Editora Quixote+Do.
O título inspirado em palavras da escritora Clarice Lispector é bastante significativo. A literatura é uma constante, fecunda fonte de exemplos clínicos que justifica o grande interesse dos psicanalistas desde sempre. A investigação sobre a verdade mais íntima de cada sujeito desconhecida até por ele próprio por tratar-se de conteúdo inconsciente. Assim, o que se diz fica esquecido por trás do dito. E só uma cuidadosa escuta é capaz de resgatar esta verdade nas entrelinhas das palavras.
Neste livro, as autoras Gilda Vaz e Regina Beatriz, amantes da psicanálise e da literatura, numa bem-sucedida parceria, deram-se as mãos e endereçam sua escrita “àqueles que acreditam na arte, na força da escrita e nos sussurros das palavras”. Coisa linda de se ler.
Tudo começou no Festival Literário de Araxá – Fliaraxá, em junho de 2019, sob a curadoria de Afonso Borges, idealizador do evento, que já está em seu nono ano, mais exatamente na oficina Mulheres extraordinárias. Elas vieram de diversos campos e rolaram pérolas.
Causadas pelo encontro, as autoras decidiram colocar em marcha esta empreitada, e nós desfrutaremos os lucros e louros desta parceria, que conta com a colaboração das escritoras mineiras contemporâneas Carla Madeira e Daniella Zupo.
Frutos que amadureceram e serão agora colhidos e saboreados por nós, que adoramos comer palavras. E comecemos nossa refeição totêmica pelas orelhas, na escuta de Daniella Zupo, que traduz o encontro como mágico, arte bordada no possível de dizer, no despojamento das vaidades, no desejo do encontro. Costura nascida da escuta.
Na sequência, a apresentação de Carla Madeira que, sob efeito da leitura, entra na dança, encontra a musicalidade das palavras e faz poema. É impossível resistir a convite tão entusiástico sem se apressar para dentro deste mundo novo que um livro inaugura em nós.
As autoras flertam com a literatura e retiram as delicadezas da língua e a escuta das entrelinhas. Como não poderia deixar de ser, pois é próprio do psicanalista apreciar autores e isso se vê proposto nesta escrita. Tomando a “palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra”.
A obra percorre autores cujas obras, nas suas palavras, “ecoam em nossas vidas, pela ressonância com nosso inconsciente: Clarice Lispector, Carla Madeira, Marguerite Duras, Virginia Woolf, Chico Buarque, James Joyce, Carolina de Jesus, Lou Andreas-Salomé, Joan Castleman e outros que souberam, sem saber que sabiam, ouvir além das palavras.”
Seu grande apreço pelos livros permitiu privilegiar no trabalho a escuta, as diferenças, aquilo que há de mais singular em cada sujeito. Movidas pelo entusiasmo e curiosidade, a psicanálise de mãos dadas com a literatura declaram ser a linguagem um construto fundamental aos princípios da práxis da psicanálise, pois, por meio dela, o sujeito se constitui e o discurso se faz presente, viabilizando o trabalho com o inconsciente. A arte literária – como as artes de uma maneira geral – possibilita uma leitura dos modos de subjetivação que estão em jogo na clínica.
A literatura, declaram elas, tem uma função cicatrizante, na medida em que ressoa em cada um com quem se compartilha o vazio deixado ao final da leitura. Deste vazio surge a oportunidade de entrar na dança, no balé da escrita, na combinação das letras na sua permutação e combinação até que o coração se aqueça e o desejo venha a criar algo inusitado.
QUE NÃO SE ESMAGUEM COM AS PALAVRAS AS ENTRELINHAS
De Gilda Vaz e Regina Beatriz
Lançamento on-line, em 3 de setembro, às 20h, no canal oficial da Quixote Do Editoras Associadas no YouTube