Bolsonaro na ONU é sinônimo de perigo à vista. Em alerta, cogitei se humilharia ainda mais os brasileiros causando atritos desnecessários para recuar no dia seguinte. Foi o que pensei de véspera.
Lembrei também da série “O conto da aia”, exibida na HBO. Quando as aias desobedecem aos mandamentos fundamentalistas – os fanáticos religiosos –, são submetidas a terríveis castigos. Um deles é ficar de joelhos e as outras em círculo ao redor repetem: vergonha, vergonha, vergonha. Uma verdadeira lavagem cerebral. Um condicionamento operante.
A política do presidente do Brasil, por incrível e surrealista que possa parecer e, se é que há algum planejamento ou técnica, consiste em falar para seus acólitos, irritar a oposição, causar impacto. Bolsonaro causa confusão. Fala, depois pensa, ou é calculado.
É o que tem sido praticado. Desde sua campanha na rede social, uma série de fake news com objetivos escusos de manipulação da informação foi muito criticada na mídia. Hoje, no Brasil, prática considerada criminosa.
Falam mentiras que se espalham como verdades, com objetivo de difamar e formar opinião equivocada. O que gera a desmoralização e o descrédito sem que haja evidencias e fatos que comprovem a informação causando grandes prejuízos. Uma prática perversa.
Em seu discurso na ONU, além de fazer propaganda enganosa do governo, nos trouxe ainda mais vexame público. Sinceramente, um presidente que recebe a honra de discursar na ONU precisa ter compostura e ser verdadeiro.
Ao contrário, o presidente e sua comitiva expuseram sua falta de compostura, desde a chegada até a saída. Entram pela porta dos fundos, comem pizza na calçada por não serem admitidos em restaurantes. O presidente não tem constrangimento ao declarar sua falta de civilidade de não ter se vacinado e nem por ir contra todas as diretrizes científicas acatadas no mundo na luta contra a COVID-19.
Afirmou defender a Amazônia, apesar do que fez seu ministro do Meio Ambiente. Se posicionou solidário à questão indígena, embora aqui saibamos que os índios ficaram na Esplanada dos Ministérios em protesto à indiferença do governo a invasões e grilagem em suas reservas. O governo reduziu a segurança significativamente na Região Amazônica.
A inflação está galopante e nos atira num cenário que acreditávamos superado. A carestia retira da mesa dos brasileiros muitos itens em alta absurda – temos mais sem teto, homens e mulheres nas ruas precisando de trocados para comer.
Defendeu o tratamento inicial da COVID com medicamentos ineficazes como se tivessem sido aprovados pela Associação Médica Brasileira, o que não aconteceu. Um discurso foi enganador.
Muita coisa dita era o que nós brasileiros mais queríamos que fosse verdade. Isto mostra que o governo sabe o que é bom. O presidente fez propaganda de um Brasil e um governo que aqui não vemos e não temos. Oferecendo um cenário confiável, maquiado, para “inglês ver” e que está longe de ser o que apresentou.
Foram palavras para atrair investidores, o que seria bom caso se tivéssemos para entregar o que se vendeu. Também fez campanha no palanque da Presidência e seu cargo para angariar votos. Um desrespeito.
E para finalizar o vexame, tanto o diplomata que antecedeu a comitiva quanto o ministro Marcelo Queiroga na comitiva presidencial também testaram positivo para COVID. Além disso, Queiroga mostrou sua grosseria e deselegância dirigindo a manifestantes gestos obscenos. É de doer... a vergonha que os brasileiros estão sofrendo hoje. Vergonha! Vergonha! Vergonha!