A maternidade é a linguagem do afeto. Seja positivo ou negativo, ele nos afeta desde o berço. Já pensaram o alcance do acolhimento de uma mãe na subjetividade do bebê? Claro que sabem disso, pois é óbvio pela experiência de nossa vida e nos resultados. Na somatória do que nos tornamos, percebemos traços dela que, algumas vezes até indesejáveis, nos surpreendem.
A vivência da maternidade é algo de tamanha magnitude na vida de uma mulher que é difícil descrever: um amor enorme, um forte temor e até a rejeição que transforma a vida, de mãe e filho, em um caminho de dor. Um filho abala a vida da mulher, sempre despreparada, porque nunca estamos prontas para o que virá na vida. Como disse Voltaire, o presente é “grávido de futuro”, isto é, antecipamos imaginariamente o que virá tentando controlar o amanhã. Fonte esta de inesgotável ansiedade.
Parece que hoje falo dos óbvios, mas não são eles difíceis de encarar? Negadores que somos, queremos simplesmente evitar tudo que nos aborrece sonhando com a vida ideal, como deveria ser e relegando o que é como se não fosse importante. O real fica encoberto por uma película protetora. A lucidez excessiva é deprimente para a maioria de nós.
Não sabemos exatamente o que é ser mãe, uma boa mãe, uma mãe que atende as necessidades, principalmente quando em dificuldades e sozinha. A série “Maid”, da qual falei na última semana e que vem sendo muito comentada, mexeu com as mulheres. Comoveu, indignou, algumas não conseguiram ir até o final por ser forte, triste, pesada. É o real.
Outras foram até o fim e, em muitos pontos, se lembraram de suas histórias, das dificuldades das famílias, das mães e dos pais para sustentarem este broto de gente tenro que é uma criança.
E neste percurso difícil de gerar, criar, sustentar, educar – uma das tarefas impossíveis, segundo Freud –, muitas fracassam preferindo delegar sua cria a terceiros – que farão o trabalho árduo por elas – e outras lutam como leoas.
Digamos que aquelas que recusam e rejeitam suas crias provavelmente levarão esta dívida como remorso e culpa para sempre, pois, mesmo as que lutam para alcançar o possível também, elas têm falhas e sempre se indagam se podiam ter sido melhores.
Em muitos casos, desejam ser melhores naquilo que já viveram ou do que conhecem em suas experiências pessoais em suas raízes. E dão conta mesmo que repitam traços negativos independente de sua vontade. “É mais forte do que eu”, dizem mães que se sentem insuficientes. E qual delas não se sente assim? Poderíamos perguntar!
E não sentem temor somente no primeiro filho, mas em cada um porque cada um é um e nasce com inclinações e tendências singulares. Cada maternidade de um filho é única, sejam eles um, cinco ou 10. Mas para perceber cada um será preciso um olhar atento e uma escuta amorosa.
De alguma forma, a série “Maid” moveu céus e terras no sentimento das mulheres, mães, filhas, pois retrata a vida de todas nós, a luta que é fazer de um bebê uma pessoa, sustentar integralmente um ser dependente que veio de nossas entranhas e que é absoluta responsabilidade nossa.
Quem é mãe sabe disso, e muitas vezes sentindo o peso de criar sozinha um filho – situação muito comum ainda na nossa cultura, a família monoparental –, mesmo temendo não ter como prover o amanhã, ela continua sua luta apesar da insegurança ao carregar em seus braços alguém que pariu.