Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Juntos enfrentamos situações em que sozinhos seríamos impotentes

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Entramos no ano novo literalmente debaixo d’água. Aqui choveu muito, mas sem danos colaterais graves. A catástrofe ocorrida na Bahia no fim de ano foi terrível e ainda chove lá. Foi grande o pesar entre os brasileiros de ver a população sofrendo em tantas regiões carentes de tudo, à espera de socorro.





Alagamentos, isolamentos, desabrigados, mortos e feridos, falta de provimentos e tantas perdas anunciam um sofrido verão. As lindas praias do Sul da Bahia, que tantas vezes visitamos com acolhimento e simpatia, ficaram inacessíveis com as estradas interrompidas. Muitos desistiram de viajar para lá, alterando e adiando os planos.

Serão enormes os prejuízos numa época importante da passagem do ano e veraneio, afetando terrivelmente o turismo, forte gerador de receita para todos que esperaram este momento se preparando para receber hóspedes e que, possivelmente, terão cancelamentos como nunca.

Os afoitos por dias de sol, de céu e mar tiveram que fazer opção por outros destinos em cima da hora. As águas quentes e reconfortantes do litoral baiano este ano ficaram mais vazias e os banhistas saudosos. O governador da Bahia enfrenta uma situação de emergência e calamidade e precisará de toda ajuda possível.





Eu nunca tinha ouvido falar dos Capacetes Brancos da Argentina e muito me admirei com a existência desta instituição perita em alagamentos. Achei muito interessante a oferta de ajuda dos nossos vizinhos argentinos e bastante solidária.

Espero que o Ministério do Exterior, que considerou desnecessária a intervenção argentina, possa suprir as necessidades do povo em apuros. Numa hora destas, tudo de que precisamos são experientes e solidários braços amigos. Foi muito ousada a recusa, e quase não acreditei. Esperemos que as verbas disponibilizadas pelo governo federal sejam suficientes e bem distribuídas para alcançar tantos necessitados.

Nestas horas, é bom lembrar o que motivou Freud a escrever o importante livro “O mal-estar na civilização”. Ali, ele aponta que a união dos homens em comunidades e a construção de laços sociais e afetivos fortes foram uma inteligente saída, superando as rivalidades, para proteção mútua e continuidade da espécie. Esta é a base de toda civilização.





Dizia Freud também que enfrentamos três fontes de grande mal-estar e sofrimento. A primeira seria a impossibilidade de fugir da dissolução e decadência do próprio corpo e da morte à qual estamos todos condenados.

A segunda fonte de sofrimento vem do mundo externo, como a persistente COVID, acrescida da onda da gripe H3N2, que agora nos atinge em cheio, junto com o desequilíbrio ecológico e as enchentes. Este real a que agora estamos sujeitos volta-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosa.

Por último, Freud aponta o relacionamento com os outros homens como a mais sofrida fonte de mal-estar. Por agora, vamos deixá-lo de lado para focar na urgência. Juntos somos mais fortes para enfrentar situações diante das quais sozinhos seríamos impotentes. Trabalhemos em colaboração contra um inimigo externo com toda a nossa capacidade de resistência e recuperação.





Façamos um movimento intenso em prol da ajuda humanitária na Bahia: mãos dadas aos que sofrem. Bem-vinda toda ajuda e todos os braços que se elevam na direção daqueles atingidos por tanta desolação.

O ano 2022 começa assim e se há algo de bom nisso é que a água que caiu causou perdas e dor, mas a solidariedade de muitos veio em socorro dos desabrigados.  Só podemos desejar que tal solidariedade se perpetue por todo o ano em direção daqueles que sofrem e dos necessitados. Isto nos faz acreditar na capacidade do homem e em seu lado “do bem”.