Os valores que norteiam a vida são sempre ou foram muitas vezes pautados por falsas medidas. São tão constantemente desprezados e substituídos por símbolos de poder, fortuna e sucesso que as pessoas passam a admirar quem os tem, subestimando os valores autênticos da vida.
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Juntos enfrentamos situações em que sozinhos seríamos impotentesNeste 2022 que se inicia, vale a pena apostar na força do desejoFeminicídio: o amor idealizado e apaixonado não suporta perdaÉ impossível ser totalmente felizSó o esforço coletivo pode salvar o nosso mundoCaso Moïse Kabagambe expõe para o mundo a crueldade do racismo brasileiroA verdadeira (e preciosa) herança de pai para filhoNo terror de admitir a perda, o Eu enlouqueceO livro intitulado “Mal-estar na civilização” deveria, a meu ver, ser leitura obrigatória nos currículos escolares devido à sua importância no que concerne ao entendimento do mal-estar inevitável em todo ser falante.
Segundo Freud, as fontes desse mal-estar são a dissolução do corpo e a morte no horizonte à qual todos nós estamos condenados; o mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças poderosas e destruidoras; os outros homens com os quais nos relacionamos; e as inerentes dificuldades que marcam significativamente nosso convívio.
Nem precisamos explicar mais, pois as três fontes do sofrimento perpassam inevitavelmente pela vida de todos os homens mortais e provam que somos grão de areia no universo.
Na última semana, em Capitólio, assistimos uma rocha enorme se deslocar e cair sobre barcos de turistas que ali se divertiam. Uma diversão perigosa e arriscada em Minas Gerais em períodos de muita chuva como agora.
São inumeráveis os acidentes causados por trombas d’água, enchentes, desabamentos, e não só em Minas. Mas as pessoas colocam a diversão acima da cautela. E pagam caro por isso.
Apesar de todos os alertas da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros e donos de pousadas daquela região, ainda assim muitos colocaram os lucros acima da segurança. As embarcações, por exemplo, estavam cheias e não houve autoridade para interditar a navegação. Um dos condutores de lancha, infelizmente, faleceu pela imprudência e levou muitos consigo.
E, claro, as próprias pessoas negando a realidade. Um claro exemplo de valores falsos que norteiam a vida e provocam mortes e acidentes. A busca pelo prazer não pode superar a responsabilidade com a vida, negligenciando perigos anunciados e previsíveis. Não podemos julgar o que determina cada um, mas aí vemos o resultado da busca de felicidade a qualquer custo.
Neste livro que citei, Freud, como estudioso da natureza humana, era observador dos sinais fisiológicos e conteúdo ideativo associados às emoções e sentimentos. Entendia que a ligação humana com o mundo não é uma comunhão natural imediata.
Nosso vínculo é com nosso eu, intermediário das relações com o mundo externo e se prolonga para dentro, sem fronteira nítida, numa entidade psíquica inconsciente que ele chamou de Id.
O Eu serve de fachada para o Id. Sua fronteira com o mundo externo é mais nítida. Ele nos alerta sobre perigos e deve nos manter em segurança. Porém, a combinação da ilusão de felicidade, a negação e a sedutora oferta de prazer tornam o homem insensato. E assim se dão muitos acidentes que ameaçam a civilização que tanto lutamos para erigir.