Dois filhos curiosos com os segredos guardados pelo pai resolveram questioná-lo. Perguntaram a ele, amado e respeitado margrave das tribos nômades turcas da Idade Média, por que algumas vezes dizia exatamente onde ia e o que faria, mas outras vezes nada falava sobre suas jornadas.
Suas batalhas contra inimigos bizantinos e mongóis, que ameaçavam os assentamentos das tribos nômades espalhadas pela Ásia, eram duras. Atacavam pelo Leste e Oeste separadamente, simultaneamente, unidos em cumplicidade, estando o pai e seu exército pelejando ora com um, ora outro, quando não contra ambos que ambicionavam tudo o que havia conquistado com sangue e espada.
Era, certamente, um herói que havia vencido muitas lutas ampliando o domínio otomano sobre bizantinos e mongóis. Um homem de fé que confiava suas vitórias à presença de Alá e suas bênçãos. Muçulmano devoto em causa santa, acreditava que morrer era honroso e o tornaria mártir valioso no outro mundo, após a morte.
Hoje, os mártires são terroristas islâmicos em sua guerra santa, a Jihad, atirando-se à morte por acreditar no mesmo. Mas, naquele tempo, guerreiros e expansionistas não matavam inocentes para protestar contra outras ideologias e religiões.
Matavam inimigos não por sua fé, mas quando desonestos. Lutavam com justiça. Independentemente da religião, respeitavam governantes honrados capazes de manter pactos firmados e fronteiras. Mas se quebrassem a palavra... era guerra.
Atenciosamente, aquele pai amoroso, antes de partir em missão na longa jornada que iniciava, respondeu de uma forma muito interessante – e é o que interessa aqui.
À pergunta dos filhos, o pai respondeu: é uma necessidade exigida pelo assento que ocupo como chefe. Não devo confundir os papéis de chefe e de pai. Se quiser ser chefe, tem de saber ser discreto.
Lembrou-lhes das palavras do profeta: “Segure a língua e será liberto”. A palavra é prata, mas o silêncio é ouro. Palavras têm tanto valor que nunca devem ser desperdiçadas.
Representamos uma grande causa pela qual não hesitaríamos por um segundo dar nossas vidas. Não podemos dizer qualquer coisa a qualquer um em qualquer lugar. Não é por não confiar em vocês. É só por ser chefe. E no assento de um chefe devemos guardar segredos. Vocês se tornarão chefes no futuro. Devem decidir o que dizer e a quem, sem se basear no seu julgamento egoísta, mas de maneira digna.
Alegres e gratos, os filhos entenderam a mensagem preciosa, recebendo a herança mais importante que um pai pode passar ao filho: a capacidade de ser homem e saber o seu lugar. A autoridade de se portar dignamente em cada ocasião que a vida exige de nós. Este pai fez ali a transmissão belíssima de sua mais preciosa herança.
Disse Goethe: aquilo que herdaste de teu pai, conquista-o para fazê-lo teu. A herança que vem do pai é bem-vinda e assimilada porque, além de mostrar o limite a se perceber e manter, o faz com amor. É função de todo pai apresentar a lei ao filho, preparando-o para o futuro. Repassando insígnias fálicas que lhe permitirão ser homem para uma mulher e pai para seus filhos. Para as mulheres vale o mesmo.
A principal herança não é fortuna, beleza ou sucesso, mas a capacidade de cumprir funções essenciais e ser solidário à sua comunidade.