Era para ter sido melhor que os outros o nosso século 20. / Agora já não tem mais jeito, /os anos estão contados, /os passos vacilantes, /a respiração curta.
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Tempos de guerra: Homem goza ao exercer sobre o outro seu poder e crueldadeNão podemos ser cúmplices do genocídio dos povos indígenasSó o esforço coletivo pode salvar o nosso mundoEm ano eleitoral, devemos pensar antes de acreditar no que nos dizemAnálise é como jogo de futebol, sempre inédita, nunca se repeteSó Jesus amou sabendo. Nós amamos na ignorânciaSentir-se escutado acalma, a resposta se percebe no olhar, no corpoAlguns não suportam a perda, mesmo quando são perdas da dorEra para se chegar à primavera/ e à felicidade, entre outras coisas.
Era para o medo deixar os vales e as montanhas. /Era para a verdade atingir o objetivo/mais depressa que a mentira.
Era para já não mais ocorrerem/algumas desgraças:/a guerra por exemplo, /e a fome e assim por diante.
Este trecho maravilhoso do poema da polonesa Wislawa Szymborska (1923-2021), intitulado “Ocaso do século” (“in Poemas”, Companhia das Letras, 2014), embora tenha sido escrito anos atrás, é muito significativo neste momento.
Desde 1945, o mundo não assistia uma guerra de território como esta, quando a Rússia, no entendimento de seu presidente, considerava a Ucrânia parte histórica de seu país. E não aceitou a liberdade pretendida de se aliar ao bloco continental da Otan.
Invasão perigosa, pois se os EUA compram a pilha e entram na guerra, certamente chegamos mais perto do fim do mundo, pois dois arsenais atômicos podem ser acionados. Sempre correremos o risco, depois das armas poderosas e hiperdestrutivas que foram criadas no mundo, de ter um mais doido que aperta o botão e manda tudo pelos ares.
O próprio criador da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki se matou quando se deu conta do que fez. Mas aí estava feito e não havia como voltar no tempo para anular acontecimento tão extremo que destruiu totalmente duas cidades. Os pouquíssimos sobreviventes narram a experiência de horror.
Nossa civilização já passou por tantos momentos extremos. Histórias contadas e lidas minam em nós absoluto repúdio e, ainda assim, há os que desejam voltar a usar métodos tão cruéis envolvendo civis que, caso consultados, jamais escolheriam tal caminho.
A resolução de invasão foi absolutamente autoritária. E não expressa o desejo da população russa nem sequer ucraniana. Pensem na história da humanidade e em quantas barbaridades fizeram os homens por poder, por narcisismo, por ódio de seu próximo.
A força da violência faz parte de nós, que nascemos com potencial pulsional para a agressividade. As pulsões de vida e morte amalgamadas em nós podem ser polarizadas gerando extremismos perigosos.
Porém, a civilização nos educa e ensina a tolerância, e desde cedo, quando no jardim de infância iniciamos o dia a cantar: 'Olá bom dia! Oh como vai você? Um olhar bem amigo, um doce sorriso, um aperto de mão! E a gente sem saber como e por que se sente feliz se põe a cantar esta alegre canção!!!', há o desejo de uma vida solidária e pacífica em nós.
Também muitos poetas escreveram sobre como desejariam um mundo melhor. O poeta escreve porque sofre as dores de todos os homens. E sabe se expressar com beleza nas palavras e nos tocam. E não apenas nos tocam, são responsáveis pelo que vivemos.
Disse o psicanalista Antonio Quinet: “Lá onde faltou a palavra explodiu a guerra, como um destino da pulsão de morte. O palco da guerra é um sintoma que eclode quando não foi possível ser resolvido o conflito que o determina. Como pacifistas, apostamos na palavra para restaurar uma civilização em que a paz não precise encobrir mais nenhuma guerra com seu manto de hipocrisia.” Disse bem, não?