O trabalho avança com nossos pacientes e mais claro fica que o que mais vale enquanto analista é a qualidade da escuta. O que resta das palavras ecoando e quase fazendo tremer os tímpanos traz a riqueza daquele que nos fala. Revela a verdade não conhecida, no que se diz há um saber que não se sabe. Um saber inconsciente.
Nada há de banal nas palavras de uma pessoa quando a escuta atenta aproveita tudo na busca do sujeito, aonde é preciso ir. O bom pescador pesca o peixe grande por reconhecer sua pegada na linha. Mas não apenas nas análises esta constatação sobre a escuta é importante.
A escuta é importante sempre. Em qualquer ocasião. E a palavra nunca deve ser tratada com desdém ou como se fosse abobrinha, porque ela porta aquilo que há de mais próprio e singular de cada um.
As pessoas que convivem com grande intimidade e por muito tempo juntas, às vezes, perdem a qualidade da escuta e do valor do outro. Porque banaliza o que escuta. E assim mortifica a relação uma vez que, quem fala, sente-se absolutamente sozinho, embora a dois.
Estar atento ao outro porque há diferença é vital. Respeitar e querer saber dá vida ao outro, mesmo quando pensamos saber tudo sobre ele. Engana-se quem tem esta postura careta.
Atenção que valoriza. A escuta atenciosa acolhe como um abraço que conforta. Se sentir escutado acalma, a resposta se percebe no olhar, no corpo. No alívio por ser acompanhado. Não pareado com o outro fazendo “Um”, mas escutado por outro, que está ali presente.
E mesmo quando nos escutamos e respeitamos aquilo que é nosso, nos sentimos bem melhor do que quando apenas estamos respondendo a expectativa alheia. Quando nos escutamos não estamos sós, ao contrário, temos a nossa própria companhia.
Descobrir isso é como desenterrar um tesouro de dentro da alma. Podem acreditar e fazer a prova. Sejamos fieis ao que escutamos. Escutemos ao pé da letra, na materialidade da letra, que sai da boca, nossa e do outro, e logo nos virá a razão deste artigo.
Brigas e desentendimentos acontecem porque as pessoas não se escutam e não aceitam diferenças. Não querem saber do que discorda, do que pensa diferente e querem calar esta voz, fazer o outro engolir o que disse.
E todas as contendas e guerras vem daí. Pelo fracasso da palavra não escutada. A palavra é como um pacto possível. Quando umas das partes não escuta e despreza o que é dito, não é possível nenhum acordo. Quando a intenção é o domínio, nenhuma palavra será escutada. especialmente se vier com imposições, manipulações ou chantagens.
O desejo é livre e precisa circular, ser o que realmente é para o sujeito. Por isSo, gostei muito da música do Alok, Zeeba & Bruno Martini, “Hear me now”. Diz mais ou menos assim: todo caminho fica iluminado se você me escuta agora... as coisas não são fáceis, então acredite em mim agora... não aprenda do jeito mais difícil, me escute agora”.
Bom, é isso aí. Se a gente escutasse e pudesse pensar numa lógica plural, necessária ao coletivo, estaríamos, hoje, num mundo melhor e certamente a guerra, a degradação do planeta e a miséria não avançariam por causa da ânsia de um gozo perverso de domínio, massacre e opressão entre povos que vivem no mesmo planeta. Mesmo planeta, sacou? Isto significa tudo. Isto é tudo. Me escutem agora!