Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Só Jesus amou sabendo. Nós amamos na ignorância

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


É óbvio que tudo o que acontece entre uma pessoa e outra passa pela linguagem. Sem ela, nada começa, nada tem início. Ou continua. Não existe relação senão intermediada pela palavra e até mesmo o corpo está submetido à linguagem de tal maneira que nem saberíamos avaliar precisamente por ser algo sutil. Algo que não é uma coisa que pensamos enquanto vivemos, mas é óbvio quando pensamos nos efeitos das palavras sobre nós.





Da mesma forma, sabemos que para nos relacionarmos é preciso de dois e, quando convivemos demais, queremos nos reduzir e viver com o outro como se fôssemos um. E isso mata qualquer relação, primeiro porque anula um dos dois, segundo porque em nenhum caso dois corpos podem fazer um, por mais que se apertem. Nem que se abracem muito forte.

Não se pode apertar tão forte que o outro morra disso, não há nenhuma espécie de redução ao um. Se há algo que faz um é no sentido de um elemento, químico, por exemplo, e tem a ver com a morte, porque, após a fusão, os dois se fizeram outro, um terceiro. Cada um deixou de ser.

Por incrível que pareça, continuamos insistindo em fazer uma fusão; uma confusão é o que resta desta operação que frequentemente vemos no casal “neuras”.

Aquele em que todo desejo será castigado com uma censura e a desaprovação ciumenta de quem cobra do outro, que toda alegria deve ser restrita. Só se pode ter prazer, alegria e amizades compartilhadas, e nada que vá além do círculo permitido pode ser transposto.





A censura, a proibição, o aprisionamento estimulam a fantasia de que para além do cerco existe o paraíso... esperando... E nem sempre é verdadeira esta fantasia, aliás, quase nunca, pois paraíso por aqui não haveremos de encontrar.

A não ser quando apaixonados, pois neste caso estamos deliciosamente loucos para acreditarmos que encontramos nosso número. Até que realidade desminta este estado delirante, vamos amar desesperadamente. Acordar é que são elas.

Disse o Padre Vieira, em 1500 e lá vai pedrinha, que só Jesus amou sabendo. Nós amamos na ignorância. Amamos quem pensamos que o outro seja, amamos nossas projeções sobre ele e elas são tomadas como verdade inquestionável. Jesus sabia que Pedro ia negá-lo e que Judas ia traí-lo. Tentou alertar os amigos, mas nada impediu a verdade de aparecer logo ali na frente.





Assim é aqui nessas nossas galáxias que desejamos a alegria de viver, e a boa companhia das pessoas que amamos é fundamental para que estejamos na escuta do nosso desejo: do que somos, do que é o outro. Isso nos faz boa companhia para quem quer que seja, pois estaremos contentes sem ressentimentos e mágoas ou sem nos diminuir diante de quem quer que seja. E não queremos que o outro ceda, mude, nem faremos aquela perguntinha capciosa: o quê que custa?

É muito ruim se esconder, não se assumir por medo de perder o amor do outro. Ficar abrindo mão de si para ser amado é comum, mas nada saudável. As opiniões estarão sempre circulando e são importantes, bem-vindas às construtivas. Escutar e poder saber se virar com elas, fazer o melhor é ótimo.

Mas as censuras também pairam sobre nós como nuvens negras. Não só as alheias, mas principalmente as nossas, seguramente muito mais cáusticas. E só nos fazem sentir culpa e a culpa não serve para nada. Seu objetivo é nosso masoquismo. Nos fazer sofrer não resolve nada. Só pesa nosso astral.

Ela vem dos ressentidos e recalcados, provavelmente dos autoritários, os poucos democráticos. Então, como disse Lulu Santos no festival Lollapalooza: “Cala boca já morreu. Quem manda na minha boca sou eu”. Censura nunca mais!!!