Este mês, grande parte da comunidade de psicanalistas, clientes, alunos, amigos e família se despediram com grande lamento do querido doutor Jeferson Machado Pinto. Foi grande a perda, pois ele fez parte da vida de tantas pessoas.
Ensinou por anos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, além de suas aulas adoráveis, contribuiu com inúmeros textos e artigos que agregavam a seu ensino grande valor e contribuição a colegas que puderam usufruir dessa escrita e aos estudantes do curso de psicologia, nas disciplinas da psicanálise.
Sua vasta clínica de muitos pacientes – que se beneficiaram de seu modo meigo, firme e carinhoso, de sua escuta atenta e rigorosa e de suas palavras generosas – mostrava-nos que estava bem ciente de que ali lidava com leveza e respeito com a dor de cada um que vinha demandar lugar em seu divã.
Eu e muitos tivemos o benefício de contar com ele em momentos de angústia, tristeza, sofrimento. Pudemos ser apaziguados com o bom manejo do analista: sabemos disso todos que passam ou passaram por essa experiência ética.
Estamos em luto por seu falecimento, e isso nos faz relembrar seu rosto, sua voz, seu sorriso, seu olhar meigo, esperto e matreiro. Pensar que perdemos um grande sujeito que fez parte da vida daqueles que trabalharam e conviveram com ele pessoalmente.
Sabemos que somos finitos e nosso fim é inevitável, mas o fato de saber disso não torna fácil, nem menos triste, tolerar as separações e perdas daqueles que amamos. Esta perda tocou o coração de muitos colegas, que lhe prestaram uma bela homenagem na UFMG.
Também foram muitas e belas as declarações publicadas por poetas e escritoras, como Paula Vaz e Lucia Castelo Branco, entre muitas pessoas que se manifestaram e igualmente lamentam e compartilham o vazio deixado por ele.
Faremos este luto, cada um o seu, mas sabendo que somos muitos e que sua memória viverá em cada lembrança, em cada leitura de seus escritos, em cada citação e nos momentos em que suas palavras ecoarem nas memórias que dele teremos na nossa jornada. Nesta vida que não decidimos viver e na qual somos condenados a continuar apesar de tudo, do bom e do ruim.
Seguimos. E em nós, nosso querido Jeferson viverá. Viverá em nós e na gratidão de termos tido a oportunidade de passar por ele na nossa breve existência. Foi sorte nossa ter cruzado com ele no caminho, entre as pedras do caminho.
Deixo aqui as palavras de Valter Hugo Mãe no livro “Máquina de fazer espanhóis”, da literatura que ele tanto amava e que recebi recentemente de uma leitora. Creio que ele gostaria:
“Nunca eu teria percebido a vulnerabilidade a que um homem chega perante outro. Nunca teria percebido como um estranho pode pertencer, fazendo-nos falta. Não era nada esperada aquela constatação de que a família também vinha do lado de fora do sangue, de fora do amor ou que o amor podia ser outra coisa, como uma energia entre as pessoas, indistintamente, um respeito e um cuidado pelas pessoas todas.”
Que sua energia brilhe no universo e ilumine estrelas.