Jornal Estado de Minas

REGINA TEIXEIRA DA COSTA

Viagem no tempo mostra que há conquistas, mas também lutas a serem vencidas

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Às vezes, para suportar o presente e todos os perrengues que nos angustiam no cotidiano, é bom visitar o passado e comparar os costumes através do tempo. Assim podemos deduzir que tudo muda.
Fazer esta viagem no tempo pode nos aliviar em alguns pontos e também mostrar que em outros pontos estamos em momento crítico.



Primeiro, pensei ao assistir a propagandas partidárias na TV: quem te viu e quem te vê.! No final do século 19, mulheres brancas de classe média iniciaram o movimento feminista que lutava por seus direitos jurídicos e políticos.
 
Até então, elas não saíam sozinhas, não trabalhavam, não tinham direito a voto, não podiam se separar e a pílula anticoncepcional não existia. Totalmente submetidas ao machismo e ao falocentrismo que apenas contemplava o gozo masculino.
 
Hoje, somos nós, mulheres, o alvo dos partidos políticos ansiosos por nossos votos. Isso mostra o quanto avançamos em termos de direitos civis, ganhando liberdade sexual e autonomia do domínio masculino, podendo dar ouvidos a nossos desejos.




 
Por outro lado, ainda é preciso avançar muito, pois ganhamos mercado, mas ainda não temos companheiros com quem dividir os cuidados dos filhos e do lar com a mesma igualdade. Portanto, nossa luta continua.

Na Grécia Antiga, a relação amorosa entre homens era comum e aceitável. Mulheres eram esposas submissas que apenas serviam para gerar filhos e cuidar da casa. Não tinham outros direitos. Essa digressão no tempo nos mostra o quanto o mundo gira e que os costumes podem tanto progredir quanto regredir.
 
Na Inglaterra do século 19, por exemplo, o escritor Oscar Wilde (autor de “O retrato de Dorian Gray”) foi condenado por ser homossexual, prática proibida na época. Muitos outros tiveram o mesmo destino naqueles tempos sombrios. A intimidade era domínio público, a moralidade regulava o comportamento.
 
Hoje, século 21, o LGBTQIA+ é um movimento de defesa do desejo, seja ele qual for, independentemente de se atribuir a esse desejo a maldição sobre a qual caiu a repressão no século 19, quando era chamado pelo próprio Wilde de “um amor que não se pode dizer seu nome”.




 
Vemos novamente um desejo que exige seu lugar ao sol. O mundo se abre para a questão dos direitos dos homossexuais, embora desde o início do século 19 Freud já os defendesse. Recebia cartas e demandas de tratamento de pais e mães preocupados com a homossexualidade dos filhos. As homossexualidades, assim as chamava Freud, defendendo a ideia de que eram apenas a inversão do objeto de desejo, não se tratando de doença a ser tratada para obrigar uma reversão impossível.
 
Enfim, a psicanálise não pode curar o que não é concebido como doença. Hoje, avançamos muito, porém ainda lidamos com o preconceito daqueles que, ameaçados pela liberdade sexual, temem que um dia a bissexualidade, inerente ao humano, possa ser assumida como algo natural. E é. Quer queiram ou não os retrógrados e preconceituosos que estão, todos, inclusive educadores, tentando conter pulsões que hoje ousam romper o cerco da repressão.
 
Parece-me que hoje, entre nossas lutas além destas aqui citadas que ainda não estão vencidas e requerem posicionamento, a mais contemporânea é a questão ecológica. Essa é complicada, porque envolve interesses financeiros de grandes capitalistas e do Estado, diante dos quais nos sentimos pequenos e impotentes. Mas não somos.




 
O movimento mineiro Tira o Pé da Minha Serra – contra a exploração de minério na Serra do Curral – mostra que temos o direito de não admitir que o nosso estado seja explorado de maneira predatória. Conseguimos que o tombamento fosse feito depois de tantos adiamentos. Os protestos tiveram seu efeito.
 
Mas a questão é muito maior do que nossos interesses locais, atinge a escala planetária. E, portanto, diz respeito ao mundo no qual vivemos – o que acontece do outro lado do planeta nos afeta a todos.

A “nossa” Amazônia é do mundo e interessa a todos. Por isso, não podemos mais tolerar que ela se torne palco de bandidos e assassinos. Mais uma causa de grande interesse.