Jornal Estado de Minas

Em dia com a psicanálise

O que Levi, de 'Pantanal', nos ensina sobre a dor de existir

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Sem querer descaracterizar os motivos, acontecimentos, problemas do cotidiano, perdas que durante a vida podem nos usar grandes dores, gostaria de falar sobre um modo em especial. É uma dor de existir que todos sentem. Dificilmente algum humano passou pela vida sem experimentar tal sentimento.





Todos temos nossos fantasmas, inconscientes em sua maioria, porém alguns conhecidos, e neles algumas perversões são ativas. O masoquismo, por exemplo, é um sofrimento aliado a uma fruição deste sofrer. Como um apego.

Seu par, e oposto, é o sadismo, e um acompanha o outro. Um par perfeito que encontramos por aí em cada um, mas seu futuro é duvidoso. Na mesma pessoa, dois opostos convivem em proporções alternadas.

Pessoas sofrem por motivos imaginários e por motivos provocados, buscam problemas, fazem dramas e cenas. No caso do sofrimento oriundo das fantasias e do imaginário, a ansiedade é desencadeada. Dizemos que os ansiosos morrem de véspera.





Sofrem por suas expectativas, pelo que pensam e criam em sua mente – às vezes, com um dedinho de realidade por trás; às vezes, por puro medo da vida, pelas marcas que trouxeram de suas infâncias sempre marcantes.

Exemplo disso é a sofrência dos vulneráveis apaixonados. Sofrência é palavra recentemente introduzida na linguagem corrente vinda do sertanejo e colou porque ninguém ignora o que seja. Marcam encontro e um se atrasa. Aguarda pensando que o pequeno atraso é coisa banal... Uber, trânsito... Mais alguns minutos: furou um pneu, perdeu o ônibus, esqueceu o celular.

A expectativa aumenta, a ansiedade desperta a cada minuto e uma pulguinha atrás da orelha. Daí em diante, é ladeira abaixo, o conteúdo se adensa com a lógica do abandono, do pouco caso, do desaforo e mais ainda o da traição.





As fantasias vêm em auxílio do sofredor e o inferno se instala. Chega-se ao ponto que, quando o outro chega, antes da explicação, leva uma bronca desproporcional, independentemente da realidade.

O masoquismo faz com que o sujeito sempre sofra. Nas relações que estabelece, desde as amorosas até as profissionais e familiares. E se coloca de tal maneira diante do outro que causa, produz o seu próprio sofrimento.

Toda fantasia tem algo do par sofrer e causar dor. E é incrível que este par nos acompanha desde a infância. Por isso, Freud chamava as crianças de perversos polimorfos. Perversos porque a censura ainda não os alcançou com os ideais da cultura e a moralidade. Polimorfo porque qualquer forma de pulsão é satisfatória quando vivida sem censura. Como se qualquer prazer nos divertisse e trouxesse gozo.

Com a educação vem a repressão de certas pulsões e somos obrigados a abandonar nossos prazeres primitivos e polimorfos, que é o que chamamos perversões. Este momento de entrar na cultura nos obriga a recalcar aquilo que é antissocial. A agressividade, a sexualidade infantil exploratória e desinibida, o voyeurismo, o exibicionismo, masoquismo, sadismo e por aí vai longa lista. Aqueles que não passaram pelo recalque permanecem perversos, podendo tornar-se pedófilos, fetichistas, sádicos, estupradores, voyeristas, exibicionistas e muitas outras formas de perversão conhecidas.





E como tivemos as pulsões perversas condenadas à inconsciência pelo juízo crítico assimilado, em certas situações em que vemos perversos realizarem sua perversão abertamente, somos atraídos pelo que se realiza naquele a quem a lei faltou.

Exemplo disso é o personagem Levi, da novela “Pantanal”. Maldoso, assassino, estuprador que, além do sucesso, ganhou muitos suspiros do público feminino... Só Freud explica mesmo. Isso também explica por que tantos votos reelegem corruptos desde sempre no Brasil.