Jornal Estado de Minas

REGINA TEIXEIRA DA COSTA

O inconsciente, a psicanálise e o voto

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A psicanálise tem como objeto de interesse o inconsciente. Somos dotados de um inconsciente, que é o que há de mais particular de cada um e, além disso, é como um desconhecido que habita em nós. Não nos conhecemos completamente.





Nosso inconsciente é formado a partir de um outro e do que interpretamos sobre tudo que vivemos. E ele funciona de modo que não percebemos, a menos que estejamos atentos para percepções sutis, sintomas, atos falhos, lapsos, sonhos e seu significado. Ele é fora da consciência, mas funciona que é uma beleza, por mais íntimo e êxtimo que seja, vem do campo social.

Do Outro, com maiúscula. Daquele que nos acolhe e educa, e nos transmite a capacidade de desejar. Somos herdeiros de seu desejo e, por isso, o desejo sempre é desejo deste Outro em nós. Nós temos traços do Outro, percebidos nos trejeitos, na voz, naquilo que somos parecidos.

Se herdamos nosso desejo do Outro, nosso mais primitivo cuidador, dele também recebemos a linguagem e ela nos insere no coletivo social, na cultura. Entramos no laço social pela via da linguagem.

A psicanálise é nada menos que uma ética que se interessa pela política do inconsciente do sujeito. O campo da política, esta política que fervilha nestes dias pré-eleições e é o que mais escutamos ao ligar rádios e TVS e em qualquer grupo que participamos.





Em “67”, Lacan propôs dois novos termos: psicanálise em intensão e psicanálise em extensão. A leitura destes foi, por vezes, realizada numa lógica de separação, de oposição. Freud sustentava que “toda psicologia individual é, ao mesmo tempo e desde um princípio, psicologia social”. Assim, já no seu começo, a psicanálise rompeu a fronteira estabelecida entre indivíduo e sociedade.

Tema de inúmeros debates, a afirmação continua ecoando nos espaços de trabalho institucionais e diversos interessados como guia de leitura. A psicanálise sempre foi foco de polêmicas e tensões nas pautas das leituras do social.

É acusada de ser uma prática burguesa e individualista. Entretanto, são inúmeros os psicanalistas inseridos em organizações que sustentam sua prática na ética psicanalítica, rompendo com o pensamento dualista e dicotômico do mundo. Uma das contribuições fundamentais da psicanálise é ser aberta e, por isso mesmo, sem intenções de dar conta de todas as possibilidades analíticas do campo social e institucional. É justamente nesse ponto de abertura que toca outros campos do conhecimento.





A psicanálise em extensão presentifica a psicanálise no mundo. Seja como conhecimento e campo de pesquisa na universidade, como pesquisa, intervenção em diferentes âmbitos do laço social, como nas instituições, em equipes de trabalho, na política, em comunidades e nos laços conjugais e familiares.

Se o inconsciente é o discurso do Outro, a política está obrigatoriamente articulada ao laço social que se produz e se orienta no discurso, precede e acolhe o sujeito e seu gozo e sintomas.

Por tudo isso, a psicanálise se interessa pelo destino de nossa comunidade através do voto com a certeza de que nossas escolhas influenciarão definitivamente o destino do nosso mundo e dos homens. A psicanálise é pacifista, aceita múltiplas verdades e trabalha para que diferenças possam coexistir e se dar as mãos pela vida.

A bipolaridade que assistimos atualmente no Brasil, causando discórdia e discussões acirradas entre amigos, irmãos, é uma demonstração da nossa incapacidade de realmente viver a democracia, que consiste basicamente no respeito às diferenças, liberdade de expressão e escolha.