Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

É hora do voto. Política é feita para pensar o coletivo

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Uma luta diária que travamos contra nós mesmos é a de nos obrigar a ser corretos, agir eticamente, até mesmo quando ninguém nos vê. Nos comportar presentes e conscientes de que vivemos numa coletividade e para tal o que é melhor para um pode ser o pior para todos.





Pensemos a política. Ela é feita para pensar o coletivo e educar pessoas no sentido de priorizar o melhor para todos. É hora do voto e votar é fazer uma aposta naquilo que é mais importante para a vida em comunidade.

Acredito que uma das coisas mais difíceis e trabalhosas na vida é a educação. Os pais, no cotidiano, têm como objetivo a humanização necessária de sua cria. Explico: vivemos na cultura e não na natureza. Não nascemos com instintos como os animais e, portanto, nascemos sem saber como sobreviver e, prematuros, caímos nas mãos do outro.

Esta dependência absoluta é penosa para quem cuida de um outro ser por tempo integral, sob risco de que ele não sobreviva. Pesa o trabalho, noites maldormidas, responsabilidade extrema. Mas a espécie continua apesar disso, e o afeto envolvido nesta chegada ao mundo e em ver os filhos crescendo compensa o sacrifício.





Mas não vamos negar que educar é tarefa de herói. Ser educado também! Uma tarefa que exige trabalho constante, presença e uma boa dose de paciência. Educar não é simplesmente dizer ‘isso pode’, ‘isso não pode’. Essa é a parte fácil. A difícil é repetir o mesmo tantas vezes quantas necessário for e perceber que não cola fácil.

E por quê? Se somos racionais e nos dão as regras da convivência, por que não aprendemos logo e facilmente? Porque nenhum manual vai esgotar esta complexa transmissão de sensibilidade, racionalidade e principalmente afeto suficiente para aceitar este sacrifício.

Ser educado é ser enquadrado, podado, castrado naquilo que é natural. Por exemplo, uma criança pequena contrariada. Ela berra, sapateia, faz birra em público, deixando os pais constrangidos.

Uma criança não compartilha o que é seu, bate na outra que pegou seu brinquedo preferido porque tem ciúme e é possessiva. Bate na mãe que tomou a colher com a qual espalhava comida para todo lado, privando-a de seu prazer. Fica com ódio quando é hora de deixar a brincadeira para tomar banho ou ir ao banheiro quando poderia simplesmente fazer suas necessidades ali mesmo. Quando separada da mãe, desespera. Quando tem um irmão, rivaliza.





Todos esses comportamentos apontam para o egoísmo do começo da vida, que não acaba, é moderada pela educação, em parte mascarada. Para a criança pequena, tudo que é eu, é bom, o que não é eu, é ruim. Crianças por volta de seis meses estranham pessoas que não conhecem. Tudo é eu, tudo é meu.

Então, não basta aprender as regras. É preciso que o processo seja paciente e amoroso. A criança aceita abandonar o natural para adquirir regras por amor. Ela aceita as privações porque precisa ser amada por uma questão de sobrevivência.

Ainda assim, será preciso um percurso longo de repetições para que aceite abrir mão da agressividade, controlar a raiva, se higienizar, aprender a cuidar de suas coisas, se organizar. Ganhar a capacidade e consciência de se comportar na vida social abrindo mão de comportamentos antissociais.





E este processo demorado exige muito dos pais até a vida adulta do filho. Na adolescência, precisam ser firmes, lidar com a argumentação constante e o desafio próprio da idade! Mesmo assim, muitos adultos permanecem infantilizados como se não tivessem aprendido a lição ou porque não a receberam de forma aceitável, com amor e respeito.

Enfim, a educação é a maior tarefa e o grande desafio de nossas vidas e não falo apenas de estudo, colégio e professores, mas, principalmente, a educação que como dizem “vem do berço”. É o trabalho dos pais, responsabilidade gigante e coragem para frustrar constantemente um pedacinho de si mesmo no filho e, muitas vezes, se sentir no papel de “o chato do pedaço”. Não é fácil. É difícil.

Mas tudo vale a pena se a alma não é pequena, disse o poeta. E tornar um ser humano em uma pessoa em condições de viver e amar, mesmo sendo resultado de muita peleja, é uma grande realização e traz a alegria da missão cumprida!