Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Imaginário coletivo envia preocupantes sinais de alerta ao Brasil

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Nestes tempos sombrios, é bom entender o que está velado sob o imaginário coletivo, que em grande parte, hoje, demonstra preferência conservadora. Tendência essa que julgávamos superada e agora nos inquieta. Convicção moralizante de tempos atrás, tradição, religiosidade, repressão e misoginia somam-se e freiam os avanços sociais atuais.





Reitero: não me limito ao Brasil. É mundial. Movimentos nacionalistas, racistas, fascistas, machistas, num revés dos progressos de conquistas importantes no terreno dos direitos humanos, como a inclusão das diferenças, a resposta conservadora vem positiva, violenta. Vem dos ressentidos ameaçados com a perda de poder, com o qual por tanto tempo controlaram o mundo.

A Igreja unida ao Estado fez guerras homéricas. O homem branco, acreditando-se dono do mundo, sempre impôs seu desejo por séculos, deixando às mulheres o direito ao silêncio e o lugar de objeto de seu desejo. Objeto não deseja. Não tem direitos.

A luta das mulheres rompeu barreiras. O advento da pílula anticoncepcional lhes permitiu mais: a liberdade sexual. O acesso ao desejo as retira da mortificação esmagadora da violenta lógica fálica que sustenta a virilidade de um homem que dirigia o mundo e tinha a posse do gozo.





A resposta do homem frente ao desejo feminino se mantém forte e violenta. Na semana passada, a TV exibiu cenas terríveis de violência contra uma mulher na rua – e elas se repetem cotidianamente, muitas vezes seguidas por feminicídio.

O que quer uma mulher? – a esta pergunta ninguém jamais respondeu, nem mesmo elas, pois o que está em jogo no feminino não se sustenta por palavras.

A falta do órgão na mulher, sua castração inegável, permite que ela deslize livremente pelo desejo, uma vez que não precisa sustentar, no corpo, este símbolo de potência em ereção do qual se torna escravo o macho. E que, caso fracasse, resulta em grande humilhação, pois não pode falhar, já que deve ser todo.

Todo-poderoso e “imbrochável”, para lembrar o neologismo atual que nos foi ofertado de bom grado, no Dia da Independência, para nos servir de exemplo. O homem, além de paramentado com seu órgão, ainda assim necessita de um poder extra, o poder fálico, para garantir seu poderio para além do sexo. Não é tarefa fácil e nem simples. Por isso dizemos: a mulher é sintoma do homem. Sua tarefa é impossível: controlar o incontrolável, governar o ingovernável.





A mulher, ao contrário, por se ver privada do pênis, pode se permitir transitar por outras zonas erógenas, ampliando seu campo de gozo. Para ilustrar, é bom lembrar a lenda de Tirésias, o sábio e vidente grego. Passeando, ele encontrou duas serpentes em cópula, as quais atingiu com seu bordão. Ao tocá-las, mudou de gênero, transmutando-se por sete anos em mulher. Passados estes anos, reencontrando as serpentes, repetiu seu ato, retornando ao gênero de nascimento.

Zeus e Hera, deuses do Olimpo, têm curiosa discussão sobre qual dos dois sexos tira mais prazer do ato sexual. Hera mostrou-se simpatizante pelo lado masculino, enquanto Zeus se referia ao sexo feminino como o mais feliz nessa questão. Decidiram, então, chamar Tirésias.

Ainda desprovido dos dons que acabariam por torná-lo famoso, esse habitante de Tebas proferiu uma curiosa ideia: “Das dez partes do prazer, as mulheres têm nove e o homem apenas uma”, o que exaltou a ira de Hera.

Zangada, a deusa cegou-o, mas seu marido, para compensar tal ato, deu a este homem o dom da profecia, que acabou por torná-lo um dos mais famosos profetas da Grécia Antiga. Não digo que tenha sido favorecido...