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Estado de Minas EM DIA COM A PSICANÁLISE

Do ponto de vista psicanalítico, defendemos a democracia

É melhor não ceder no que se refere a valores democráticos ou correremos o risco de perder o que foi, com muita luta, recobrado após a ditadura


06/11/2022 04:00 - atualizado 04/11/2022 23:21

Ilustração mostra rostos de dois homens entre setas apontando em direções contrárias

Na democracia, manifestações são sempre bem-vindas. Todavia, a forma praticada pelos caminhoneiros foi ilegal, tratando-se de crime previsto no Código Penal, que fere o Estado de Direito. Abolição violenta do estado democrático, passível de penalidades. Havia o desejo de causar uma crise política, que poderia nos conduzir da democracia para a autocracia. Tais manifestações antidemocráticas desafiam também o sistema eleitoral do país, no qual o candidato vencedor deve ser aceito pela oposição.

Manifestantes demandavam a intervenção militar, o que é inadmissível no sistema democrático que adotamos, expresso nas urnas. Pessoas desejarem a posse do governo por meio de violência, pela força, e a lentidão em debelar o caos, o que mais parece conivência, são fatos muito preocupantes.

Do ponto de vista psicanalítico, defendemos a democracia. Defendemos valores como direitos humanos, tolerância, pluralidade, inclusão das diferenças, a importância do direito à educação e à saúde para o grande contingente de pobres do país. O amor e o respeito de proporcionar oportunidades por uma vida digna a qualquer um dentre nós.

Como entender a situação atual no Brasil?

Recorremos agora a Freud e a sua famosa “Psicologia das massas e a análise do eu”, que veio a público em 1921, antes mesmo de ele próprio e a família serem obrigados a deixar a Alemanha antissemita. O que só aceitou depois de a filha Anna ser presa pelos nazistas. Então, contou com a amiga Marie Bonaparte.

Marie, casada com um príncipe grego, usou suas relações diplomáticas para salvar não apenas a família Freud, como também a obra do psicanalista e intelectual austríaco, que estava sendo dizimada. Marie praticamente salvou a psicanálise da extinção.

No caso dos fenômenos de massa, Freud aponta a identificação como a mais antiga manifestação de uma ligação afetiva com outra pessoa. A criança, por exemplo, admira o pai e quer ser como ele. Assim, toma o pai como ideal, um modelo.

O ideal do pai se torna parte do próprio eu. E pode adquirir também traços de outra pessoa com algo comum, fazendo nova ligação, como nova introjeção desses traços no eu.

Entre os indivíduos da massa é desta natureza a identificação por meio de algo afetivo e comum, como um líder. O fenômeno justifica que traços característicos dele, alvo da idealização, passem a ocupar o próprio eu do sujeito. Isso justifica também o fascínio exercido e a servidão que tal estado acarreta.

Assim é também na hipnose. O agente ocupa o lugar do eu do hipnotizado, comprometendo inclusive a prova da realidade. É uma formação de massa a dois, e ela pode vir a ocorrer em mil com o mesmo mecanismo. Conclui: “Uma massa primária desse tipo é uma quantidade de indivíduos que puseram um único objeto no lugar do ideal do eu e, em consequência, identificaram-se uns com os outros em seu eu”. Assim se forma a massa.

Tal situação ocorreu diversas vezes na história de vários países submetidos a regimes autoritários e ditatoriais por anos, como a Venezuela, onde um presidente enfraquecido legitimou Hugo Chávez, guerrilheiro e populista, para se reeleger e depois Chávez tomou o poder. E muitos outros: Perón, Putin, Erdogan, Fujimori, Fidel Castro no regime comunista, Mussolini no fascista, etc...

A democracia pode ser derrubada caso as instituições fracassem em protegê-la. No nosso caso, diante da revolta com a vitória do ex-presidente Lula, podemos prever dificuldades que virão da grande oposição. Esta tem papel importante sim, porém golpes poderão ser tramados para derrubá-lo mesmo tendo sido reeleito pelo povo.

Melhor será praticar o amor, acima de tudo. E também não ceder no que se refere a valores democráticos ou correremos o risco de perder o que foi, com muita luta, recobrado após a ditadura.

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