Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Estruturas afetivas e a educação enquanto princípio da realidade

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Na última semana falei sobre os fenômenos de massa segundo descreveu Freud ao explicar as formações de grupos do tipo exército, igrejas e, com frequência menor, porém não menos importante, algumas seitas delirantes. A partir da identificação, que é a mais antiga ligação afetiva com outra pessoa, adquirimos dela um traço, seja negativo ou positivo, que se torna parte de nós.



Daí em diante aquele traço nos pertence, faz parte do nosso eu e todos aqueles que têm o mesmo ideal e o mesmo traço comum será tratado como irmão, como semelhante em relação ao líder, a uma ideia, um ideal.

É o que ocorre também nos casos de hipnose. O hipnotizador consegue adentrar no eu do hipnotizado e, assim, assume o domínio de seu pensamento e ações, fazendo daquele um servo fiel. Outro exemplo: quando nos apaixonamos. Somos servidores voluntários do amado e em tudo queremos agradá-lo, satisfazê-lo para que fique bem contente conosco, e não corramos o risco de perdê-lo.

Assim também, quando crianças, nós desejamos agradar nossa mãe, pois ela é nossa fonte de sobrevivência. Caso nos abandone e não haja substituto, estamos fritos, isto é, mortos, já que nascemos muito prematuros e levamos anos para alcançar a independência.



De fato, nossa dependência física e emocional com o outro é estrutural. Vem do nascimento e de muitos anos depois de nascidos. E quando bebês ainda sentimos que o que é eu é bom, e o que não é eu é ruim. Por exemplo, um bebê de aproximadamente seis meses estranha tudo que não lhe é familiar. A criança se sente ameaçada pelo que lhe é estranho.

É a educação que nos apresentará ao mundo, pela linguagem, e tudo que nele é de boa forma. Deverá nos ensinar a sacrificar uma cota da naturalidade para pertencer à cultura, por exemplo, abrir mão de parte da agressividade. A boa educação nos fará ver que os diferentes não são exatamente ameaçadores, são apenas diferentes.

Nossa natureza é dura, caprichosa, não quer ser contrariada. Entretanto, aceitar a educação implica justamente abrir mão dessas características infantis. Abrir mão de parte do princípio do prazer pelo princípio da realidade.



É mole? Não. Mas extremamente importante se quisermos conviver em sociedade, pois, para isso, precisamos entender que nossa liberdade vai até onde não invade o limite do outro. Devemos aprender a seguir leis, normas sociais, calar para dar vez ao outro de se expressar e aceitar quando se perde um jogo, sem sair acusando o vencedor de trapacear, o que seria a reação primitiva.

Tentamos nos agregar aos nossos iguais e há, muitas vezes, repulsa das diferenças. Se crescemos assim, sem esclarecimentos necessários para viver no mundo entre outros, seremos misóginos e ignorantes. E assim teremos um mundo segregacionista que rejeita tudo que não é como eu, assim como fazem as crianças.

Ocorre ser este um dos maiores motivos de a vida ser difícil. A educação que ensina limites é fundamental. Ela nos exige aceitação daquilo que é como é. O que não pode ser mudado. O real, por exemplo, jamais irá se curvar às nossas vontades. Ao contrário, devemos nos curvar diante dele. Da vida como ela é.

Diante das leis e regras, temos de nos submeter, aceitemos ou não. As castrações, temos de aceitar. Aceitar, dói menos. Sem isso, serão muitos os tropeços, na melhor das hipóteses.