Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Precisamos, urgentemente, derrubar hábitos medievais

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“A cultura antiga se sepultara negramente, como um clarão estrangulado numa cordilheira sombria de dogmas, chumbando na ignorância o espírito humano. Nada respirava sadiamente e livremente. E prosseguia a obra surda da demolição das belezas antigas, da filosofia antiga, da arte antiga, e o mundo era o atraso, a esterilidade, o fanatismo, a miséria, sem pensamento e vazio, numa hierarquia dura de valores sob o controle dos barões feudais e da autoridade eclesiástica, macerado de sofrimentos, açoitado por um vendaval de misticismo que lhe obnubilara o sentido claro e feliz da vida, enlouquecido pelas perspectivas lívidas da morte.”





Estas palavras de Djair Menezes publicadas na Revista Ceará são a prova de que é preciso estarmos sempre atentos. Não basta ficarmos satisfeitos porque o mundo continua girando em torno de seu eixo. É preciso fazê-lo andar. Renovar e derrubar hábitos obsoletos.

Não que seja fácil. Com o avanço da ciência e da tecnologia e a queda do obscurantismo próprio daquela época, muito saber se produziu. Costumes mudaram, mulheres se libertaram, famílias se desfazem e refazem assimilando múltiplas possibilidades de convivência. Através dos tempos, mudamos, e o mundo tem outros paradigmas.

Daqui a alguns anos, seremos outros. Assimilar o novo, nos livrar do tradicionalismo que nos engessa (muitos ainda pensam como os medievais) faz, de fato, a vida ser mais leve, com espaço para a diversidade e a liberdade para realizar desejos.





Imaginem a gente vivendo naquele tempo de premonições e religiosidade poderosa, que podia nos levar a mortes horríveis – na fogueira, por exemplo, se fôssemos um pouquinho exóticos. Ou apedrejados e empalados por nossas diferenças!

Aprisionaram o marquês de Sade, tomaram-lhe tinta e papel, mas ele escreveu com sangue e fezes, ditou histórias. Cortaram-lhe a língua. Hoje lemos seus contos e obras, e eles nos parecem monótonos.

Atualmente, a liberdade é ampla. Nunca supusemos que um dia daríamos nome a cada forma de gozo. Exemplo disso são os LGBTs, que vão multiplicando as letras, cada uma delas representando uma forma possível de gozo. Tanto que se tornou LGBTQIA+. O sinal “mais” sugere continuação, infinitizando a singular multiplicidade das parcerias.

Ainda hoje, a sociedade – conservadora que se crê moderna – não absorveu que qualquer forma de amor vale a pena. Seja qual for a forma de gozo, precisamos conviver, aprender e trabalhar no esforço de retirar as pessoas da lista negra. Da vida marginal e miserável.





Ainda temos obscenos bolsões de segregação. Transexuais e travestis até hoje marginalizados, indesejáveis, muitos deles por falta de oportunidades de trabalho. Para sobreviver, apelam para a prostituição. Isso não é justo. Felizmente, encontram agora, na política, apoio considerável do eleitorado, o que demonstra que há quem possa amar o diferente.

É preciso aceitar que o gênero nem sempre concorda com o corpo biológico. Ninguém manda no coração. Se pudéssemos escolher formatar desejo e corpo, talvez preferíssemos assim. A questão é: o corpo não determina o que desejamos. Porém, a inversão não incapacita as pessoas de serem inteligentes, produtivas e capazes. Dignas de contribuir para a sociedade na qual tenham direito ao respeito. Mesmo – e principalmente – para os que não são capazes de compreendê-los.