Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Que o cérebro eletrônico e a "tele-visão" não nos comandem para sempre

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“A televisão me deixou burro, muito burro demais/Agora todas coisas que eu penso me parecem iguais... Esta música do Titãs não sai da minha cabeça. Toda vez que ligo a TV para assistir o noticiário é a mesma coisa, o mesmo assunto, a ponto de me deixar pensando se não seria a televisão que ficou burra. O mês inteiro foram os mesmos temas, repetitivos, discussões cansativas e só. Acabamos sucumbindo à visão da tela.





Nos manipulam através da TV, mídia, mundo virtual e, de fato, nos monopolizam a cabeça e nos mandam opiniões, editoriais, tendências de acordo mesmo com os interesses de cada emissor. É claro e cristalino que quem assiste TV deve filtrar o que recebe e pensar nos interesses que ali estão subjacentes. Internet nem se fala, quase tudo é fake.

Evidentemente tudo é política e tudo anda de acordo com os interesses. Cada um puxa a sardinha para seu prato. No caso, a sardinha é o dinheiro, de onde virá? E tudo neste nosso mundo da mercadoria depende dele. Até nós próprios nos tornamos mercadoria seguindo as tendências da moda para nos tornar desejáveis aos olhos dos outros.

Para manter o mercado aquecido, a moda muda de seis em seis meses para nos tornar reféns, por estarmos sempre reinvestindo, trocando, substituindo, desapegando para pegar mais e assim metonimicamente nunca paramos de alimentar o mercado. E até acumulando o mantemos aquecido e girando sempre em movimento. Nós alimentamos a mercadoria e somos a mercadoria.





Nosso desejo é capturado pelas mãos invisíveis do mercado e nem mesmo sabermos que parte dele é de fato nossa ou o quanto somos levados a olhar para o que nos mostram dando a entender que seremos melhores e mais felizes se tivermos sempre o último lançamento.

É cansativo viver correndo atrás de tendências, de modismos, de novidades incansavelmente lançadas. E, no final, o mundo muda muito pouco. A poluição continua furando a atmosfera, as matas continuam sendo devastadas, os rios morrendo, os homens garimpando e assassinando os que entram em seu caminho e matando as mulheres.

Apesar de tantas campanhas, a educação não cola. A resistência em deixar de lado o interesse próprio pelo mundo é fato consumado e consumista. Como entender que a moda pega e com suas tendências controlam um mercado inteiro, mas a educação não cola?

Como compreender a resistência do homem em de fato ser civilizado? Quando escutaremos de fato as vozes que se levantam e apontam para números e estatísticas alarmantes?

O que acreditamos de fato ser nosso desejo seria mesmo genuíno e original ou estamos sempre desejando nos coincidir e concordar com o olhar do outro que nos vê? Há algo do outro em nosso desejo e sempre haverá, porque dele viemos e com ele aprendemos a desejar.

Mas chega um momento que saímos da alienação e fazemos uma separação por uma liberdade, que não é completa, mas traz uma autonomia, uma alegria de viver.  Para tal, é preciso deixar de correr atrás de quem nos queira e pegar um rumo próprio. Se tiver alguém por perto que seja para somar. Por que divisão já basta a nossa.

Portanto, que o cérebro eletrônico e a tele-visão não nos comandem para sempre. Amém.