Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Ao exibir o melhor ângulo no mundo virtual, tendemos a ocultar a realidade

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O mundo virtual tornou-se uma realidade paralela. Já se vendem e compram com dinheiro virtual lotes virtuais, abrem-se lojas e muito mais coisas que nos parecem da ordem do surrealismo. O mundo virtual atrai e absorve nosso tempo. Também preenche a vida dos solitários. 





Ele traz conforto oferecendo o mundo sem que precisemos sair de casa. Relacionamentos virtuais compõem agora uma forte rede social e quase nunca usamos o telefone, hoje substituído pelo WhatsApp. Para os tímidos, retraídos e ermitões é um alívio! Não ter que encarar o outro, embora possa interagir a distância. 

A COVID nos ensinou que o trabalho remoto funciona sem prejuízo. Sobrevivemos on-line durante tempo suficiente para quebrarmos preconceitos e aprendermos que é bom e funciona. Faz uma boa suplência e necessária para várias finalidades.

Mas na vida social a coisa é diferente. O abraço e a presença afetiva fizeram falta para as pessoas e estas sentiram muita solidão. O retorno dos encontros foi bem-vindo e tomara que nunca mais passemos por outras fases difíceis como aquela. Aqueles que amam encontros estão correndo pro abraço neste Carnaval animado. 





Mas hoje quero falar das pessoas que se adaptaram muito bem à vida virtual e preferem ficar todo o seu tempo entre celular, internet, TikTok, Face, Instagram e outros recursos. Até as crianças hoje querem ter seu próprio canal no YouTube.

Para alguns, negócio; para outros, brincadeira. Todos mostram seu melhor ângulo, harmonia invejável e, ali na exibição da realidade controlada pelas imagens postadas, as aparências de fato enganam. Presencialmente também tentamos garantir uma boa imagem, mas falamos dos nossos problemas com amigos, desabafamos, nem sempre é sorriso e felicidade. 

Na rede chegamos a fantasiar que a vida dos outros é melhor que a nossa. Tantas cenas de paisagens, praias, comidas, caras e bocas maravilhosas que a gente se pergunta: será que a vida é tão boa assim pra todo mundo e só a minha que não?

A exigência de mostrar uma vida interessante, de aventuras, viagens, países exóticos, pratos gastronômicos a serem degustados tornou-se quase obrigação. Nas fotos, temos recursos, tiramos as rugas, ficamos corados, olhar radiante, lindos. Se você não tem esta vida, não tem nada interessante para mostrar, é porque sua vida é besta. Ou você. 





Só que não. Disse Lacan em um de seus Seminários que se você olha uma ave por fora, sua plumagem é linda, porém, se você a cortar ao meio, a visão do avesso será muito menos atraente.

E assim é. Mostramos tudo de bom na rede, e a vida parece tão linda. Porém sabemos das nossas dores que nem sempre podemos esconder ou negar, das dificuldades e lutas que temos de enfrentar a cada dia para sustentar e suportar a vida como ela é. E ela não é nada fácil. 

O real sempre tem um furo, e a cada dia continuamos “matando nossos leões” e nem sempre tão radiantes quanto nas fotos retocadas.

É bom sonhar, brincar e fantasiar. Mas melhor será construir a vida como se deseja que ela seja, apesar dos furos, faltas, lutos, tristezas e perdas que são as pedras no caminho, ainda assim encontramos alegria.

Nada é melhor do que fazer aquilo que se deseja no mais íntimo do seu ser e consigo.  As amizades são bem-vindas, o abraço e um bom papo são um conforto para a alma e, quando escutados, encontramos consolo. E a vida é bela se a construímos para ser assim.