O livro “A queda do céu – Palavras de um xamã yanomami” foi escrito pelo etnólogo e amigo de décadas Bruce Albert, a partir do relato do pensador, ativista político e xamã yanomami Davi Kopenawa.
Reconhecido internacionalmente, o líder indígena revela a riqueza e as lutas dos povos da floresta. Um relato excepcional, autobiográfico e, ao mesmo tempo, um manifesto xamânico, libelo contra a destruição da Floresta Amazônica, conforme anuncia a apresentação.
Foi publicado inicialmente em francês, em 2010, e cinco anos depois traduzido para o português. Estudiosos apontam que é tão relevante quanto “Tristes trópicos” de Claude Lévi-Strauss, famoso antropólogo que visitou o Brasil e seus povos originários.
O livro apresenta reflexões do xamã Kopenawa sobre o relacionamento predador do homem branco com a floresta e seu povo, o que se tornou ameaça constante a partir de 1960. Hoje, assistimos aos resultados desta relação mortífera, que culminou no genocídio.
É um livro sobre o Brasil dirigido aos brasileiros, que se consideram não índios, conforme o prefácio de Eduardo Viveiros de Castro.
Kopenawa discorre sobre a cultura ancestral e a história recente de seu povo. Sobre a dinâmica invisível do mundo, sobre sua vocação xamânica e o saber cosmológico adquirido por meio de potentes alucinógenos. E também o avanço dos brancos na floresta, causando epidemias, violência e destruição.
É a odisseia de um líder indígena pelo mundo para denunciar a destruição de seu povo. Um pedido de socorro.
O livro apresenta outra visão do planeta, a floresta como superorganismo vivo, composto de seres vivos – universo complexo e revelador que nos faz repensar os caminhos, o progresso e o desenvolvimento defendido pelo “povo da mercadoria”.
Uma crítica pesada, mas que cai bem nos tempos de ameaça ecológica. Quando a floresta acabar, acabaremos com ela e o céu cairá.
Estamos confinados à visão de mundo cujos sintomas são o resultado já conhecido. A favelização da população, a violência, a discrepância entre ricos e pobres, a falta de perspectiva de vida, a destruição da natureza, das nossas minas, dos recursos naturais e muito mais.
Se tivéssemos escutado mais os apelos de outros povos, com alternativas inteligentes e vontade política de realmente encarar esses sintomas, o mundo não estaria em alerta. Se tivéssemos escutado outros saberes sem estabelecer nossa “superioridade”, poderíamos ter traçado caminhos interessantes que contemplassem mais e excluíssem menos.
A escuta é uma coisa interessante, que traz efeitos. Ouvir é diferente de escutar. Escutar é um acontecimento. É próprio do acontecimento marcar a mudança de paradigma, e então nada mais será como antes.
Quando se é dono da verdade, quando se acha que já sabe tudo, quando se tem o poder de fazer só o que interessa a pequenos grupos, só pode haver adoecimento e morte. Eis aí um genocídio acontecendo debaixo do nosso nariz...
O nazismo – como bem nos lembrou Eleonora Cruz Santos, economista e colunista deste jornal – não foi assim também?