Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

O analista e seu lugar de escuta

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Uma amiga me perguntou sobre o tratamento que está fazendo com uma psicanalista. Gostaria de saber como é o tratamento, porque não estava gostando muito do dela. Fala, fala, fala, e a psicanalista fica calada. Ela imaginava que teria algum feedback, algum retorno. Que a analista falasse mais, lhe desse alguns conselhos, comentasse o que ela fala. Mas fica falando sozinha, se sente sozinha.





Este sentimento é muito comum na chegada de um paciente à psicanálise. Mas assim é, pois as primeiras consultas são muito importantes! Nós temos de ficar bem atentos às palavras que nos são endereçadas pelo sujeito que chega e tem muito a dizer. Se a gente não atrapalha, já está de bom tamanho.

Nas primeiras consultas – ou entrevistas, como costumamos dizer –, escutamos as entrelinhas que anunciam o que dali virá. E se escutamos muito atentos, falamos bem pouco para não desviar o sujeito de seu percurso, de seu pensamento e daquilo que ele fala.

Como nos ensinou Lacan, o sujeito diz mais do que aquilo que fala, porque algo se esconde na fala. Mas escutamos como um dito sobre a verdade mais íntima dele e o inconsciente encontra caminho para por ali vazar.

É interessante a escuta que vai sempre além do que se fala. Por exemplo, escuto de um “corredor”: “Eu só corro!” Escuto seu pedido de socorro, e respondo: “Estou aqui”.  Risos de quem entende o que disse por trás do que falou. E isso traz à tona muito mais...





E assim funciona a linguagem. Ela deixa escapar nas entrelinhas algo da verdade do sujeito que se pode entrever na escuta. Quando está falando, nem percebe que.

Parece mentira? Mas não é! O inconsciente está presente e ativo o tempo todo. Prova disso são os sonhos que realizam desejos, as piadas que são compreendidas no ato e nem precisamos pensar ou explicar para cair na risada.

Então, eu disse para a amiga: se a analista falava pouco, era bom sinal, pois mostra que ela escuta muito. Se não for assim, não trará os efeitos esperados, porque, numa análise, cada sessão deve produzir algum efeito. A menos que um não fale e o outro não escute. Aí não tem possibilidade de análise, porque ninguém trabalha.

Para fazer análise, é preciso falar livremente, o mais sem censura possível. Sem planejamento prévio ou “para casa”. Ela funciona entre as sessões, desde que haja escuta que aponte o que se está dizendo para além do blá-blá-blá. Assim, caminhamos por novos caminhos e destinos que o próprio sujeito pode construir para si com seu desejo escutado. O bendito vem da “bem-diz-são”.