Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Não precisamos de vírus para nos transformar em predadores

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Estamos diante de muitos questionamentos sobre o futuro do mundo e do homem, causados pelas ações e a exploração humana dos recursos naturais, por uma economia industrial baseada na energia fóssil e no consumo crescente de espaço, tempo e matérias-primas, que hoje adquirem a mesma força física no planeta que o vulcanismo e movimentos tectônicos.




 
A comparação é de Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo, prefaciador do belo livro “A queda do céu. Palavras de um xamã yanomami”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert (Companhia das Letras, 2015).

Cada vez mais as pessoas se conscientizam de um perigo iminente em nível planetário. Progressivamente esta preocupação produz mudanças de hábitos, porém a informação e educação não alcançam os resultados necessários para reverter o problema. As reuniões mundiais realizadas para diminuir os problemas ambientais são passos de formiga.

Assim, o homem pode, em sua cegueira,  se auto exterminar pelas próprias mãos incapaz de deter a ganância, o imediatismo, a acumulação, que nos apontam para a derrota na luta entre as pulsões de vida e morte. Há uma grande dificuldade em deter a barbárie provocada pela arrogância.





No capitalismo, o dinheiro é o maior valor e, por isso, mineradoras continuam comendo as montanhas de Minas, adiando reparações relativas aos danos e prejuízos, não apenas pelas barragens rompidas, mas em recuperar terrenos desertificados. Os garimpos ilegais são patrocinados... longa lista. Não há como negar que as profecias do fim do mundo são mesmo uma possibilidade enorme.

A série “The last of us” apresenta a contaminação da humanidade por um alimento em escala planetária, restou a ditadura militar entre muros e rebeldes que corriam o risco diante de monstros. O vírus, fibras tentaculares internas, infectavam via oral, boca a boca, ou mordida. As pessoas contaminadas tremiam, seu cérebro não funcionava e crescia para o exterior deformando o rosto. O descontrole motor, a visão rebaixada, olfato e audição sensíveis... tornaram-se predadores. Um horror.

Sem contaminação, pensei: assim é. Não precisamos de vírus para nos transformar em predadores e exterminadores. Precisamos mesmo é de nos horrorizar mais com os fatos do real e nos des-transformarmos.





Nos desvestirmos dos colonizadores que escravizaram pretos pela força e violência e ainda escravizam, exterminaram e ainda exterminam povos originários. Impuseram sua religião como única verdade, espalharam pestes. Pura pulsão de morte em caravelas. Nada de aprender, agregar. Era roubar e saquear... e ainda é. Matam quem atrapalha.

Conclusão: a série mostra o homem como é. Predador, agressivo, não respeita diferenças, não acata leis imprescindíveis e nem sempre demonstra respeito pelo outro. Precisamos nos horrorizar mais e mais diante dos fatos.

Os europeus não acreditavam nos campos de concentração. Muitos eram coniventes por desconhecer o extermínio. Alguns colaboradores ao saberem a verdade, já inegável, principalmente alemães, mostraram grande vergonha pelo terror e a desumanidade.





Diante do real, podemos nos perguntar se estamos assim tão longe daqueles monstros. Podemos nos tornar um deles. A única barreira que nos detém é a ética, a educação. A psicanálise é uma política que deve ser celebrada, abriu a dimensão do inconsciente, e mostra o quanto somos sujeitos a equívocos.
 
Freud defendeu a vida, a continuação do homem e, portanto, cabe a nós denunciar aparências, colocando em evidência desvios e más intenções que ainda têm lugar na “humanidade”. Esperamos que o futuro nos faça mais esclarecidos e inteligentes.