As pessoas que vivem tentando agradar todo mundo são as mesmas que sempre estão magoadas, ressentidas e insatisfeitas. E têm razão de ficar assim, porque estão se sujeitando ao impossível. Se enganam e se fazem de tolas. Pretensiosas em querer realizar o impossível de fazer um com o outro e esbarram no limite que precisa ser entendido, aceito.
Ninguém pode agradar a todos e nem viver por conta de uma obrigação, imposta por si mesmo, de atender demandas melindrosas a tempo e hora do freguês.
Toda demanda é um pedido endereçado ao outro. E todo pedido ao outro é, ao mesmo tempo, um pedido de amor. Então, a demanda é de amor, seja ela mascarada do que for. Mesmo quando nos dirigem a palavra estão pedindo atenção. E ainda há quem acredite, e não são poucos, que tem de ser atendido nesta demanda, e toda! Passam a vida apontando a falta no outro em completar suas demandas e expectativas como se fossem da realeza.
Súditos devem apenas cumprir o que desejo, claro que não pensam assim, mas é como se assim fossem sem saber. Se você disser algo sobre isso, negarão até a morte, jurando inocência. Ainda será mal interpretado aquele que pretender explicando, conversando, desalojar o melindroso do lugar cômodo em que está, de seu trono, sempre apontando o seu “ó como sofro” porque ninguém é capaz de realizar meu desejo.
Aferra-se na negação da verdade que se apresenta invariável diante dos fatos: somos todos incompletos, é uma impossibilidade atender alguém plenamente. A dificuldade é que ninguém quer saber que somos divididos e somos nós que devemos saber do nosso desejo e correr atrás de realizá-lo, nem que seja parcialmente. Pois ao esperarmos do outro a satisfação, certamente não a teremos jamais. Então, bola pra frente, mesmo que em falta.
A questão é que do nosso desejo nós também não sabemos tudo. Parte dele permanece inconsciente. Assim sendo, quanto mais distantes dele, mais ficamos tristes, desanimados e deprimidos. Sem saber sobre o desejo abre-se diante de nós um vazio. Mas isto não é ruim. Ao contrário, é a única maneira de – ao nos escutarmos como faltosos que somos – nos virarmos com isto pelo menos minimamente.
A falta é a única forma de fazer surgir o desejo! A falta da falta é a pura angústia, é quando estamos tapando a falta com engodos, autoenganos, julgamentos, autocríticas, culpas, incapazes de sacar que o melhor mesmo é seguir em frente com a falta. E dela fazer alguma coisa.
Sejamos criativos nas nossas invenções de sobrevivênci,a encontrando o que nos agrada e o mais independentes possível dos outros que nos cercam e, tantas vezes, não nos enxergam como seres igualmente de falta, não compreendem nossas posições, nosso modo de ser e sempre nos imputam acusações e exigências. Enfim, nos culpam por sua própria incapacidade de se dar alegrias sem esperar ser servido dela.
A culpa não serve para nada além de atender nosso gozo masoquista. Ela produz penalização e sofrimento, aliás, ela garante isso. A responsabilidade já é diferente, é algo que ao assumirmos ficaremos contentes. Porque nos leva a fazer alguma coisa.
Assim é: envio esta coluna aos sofredores de plantão para que acordem do seu sofrimento. Levantem e andem! Era assim como Jesus fazia seus milagres. Diante do imperativo, ou seja, do mandamento: faça! Mova-se! Geralmente, este “se escute” será a melhor ou a única coisa que podemos fazer por nós para abandonar o masoquismo e cair na vida com o desejo. Bora lá!!!