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Estado de Minas EM DIA COM A PSICANÁLISE

Não temos possibilidade de conforto pleno. As 'plenas' que me desculpem...

Viver na cultura nos exige muitos cortes e sacrifícios. A educação nos obriga ao controle rígido em situações extremas


07/05/2023 04:00 - atualizado 06/05/2023 00:16

Ilustração mostra rosto feminino em branco, cercado por cabelos feitos com tijolos de construção
(foto: Pixabay/reprodução)


Aprendemos com a psicanálise que na civilização não temos nenhuma possibilidade de conforto pleno. As 'plenas' que me desculpem desmoronar seus castelos de areia. Porém, quem se diz “plena” é mascarada, o que entendo não como um fingimento proposital, mas a expressão de um anseio. Tipo: bem que eu queria...

Somos mesmo divididos entre a realidade psíquica e a realidade material, que compartilhamos com os demais. No nosso psiquismo, único e singular, ainda nos divide com mais uma dobra o inconsciente, que funciona em nós fora da consciência. Não somos sequer donos de nós mesmos e devemos aprender a lidar com esta ferida narcísica.

Há impossíveis de suportar que são incontornáveis. E aceitar isso é imprescindível. Pelo menos para viver minimamente calmo e manter o foco. Somos nascidos prematuros pelas mãos do Outro. Esta dependência dura muito tempo. Para alguém se tornar um adulto independente, após a adolescência, separações são necessárias.

Antes disso, no entanto, é preciso que esse “grande” Outro que nos cuidou e permitiu nossa sobrevivência, e por isso tem uma importância enorme na nossa vida, nos ensine muitas coisas. Precisará nos educar por meio de muitos cortes e frustrações que incidirão sobre nossos instintos naturais para que nos humanizemos.

Nos ensinará a comer, usar talheres, sentar à mesa, fazer nossas necessidades de modo higiênico, tomar banho diariamente, vestir, controlar nossas vontades para que sejam compatíveis com nossas possibilidades, conter a agressividade, ter boas maneiras, respeitar os outros, e muitas outras coisas que virão a ser organizadas com o tempo e depois de muita insistência.

Se este “grande” Outro não nos ensina limites, comportamento básico, podemos esperar problemas mais sérios de adaptação à realidade que teremos de enfrentar. É preciso que haja a introdução do que em psicanálise chamamos de os Nomes do Pai. A nomeação e a introdução das leis de convivência.

Não que seja somente o pai que faça este trabalho de nos introduzir nas leis, no que podemos e não podemos. Pode ser feito pela mãe, pela babá, pelos avós, pela escola, desde que seja feito. Ou seremos antissociais, teremos problemas de ordem psíquica que podem ser graves.

Viver na cultura nos exige muitos cortes e sacrifícios. A educação nos obriga ao controle rígido em situações extremas, quando de fato queremos mesmo é dar uma bronca no vizinho, no filho, no namorado, na mãe, no pai, numa amiga e até em nós mesmos quando nos excedemos, seja o que for que nos aborreça, e não são raros estes momentos.

Indelicadezas e desfaçatez é o que encontramos todos os dias na vida quando transitamos entre pessoas. Deve ser por isso mesmo que a cada dia ficamos mais atrás das telinhas da TV, do celular, no Face, Insta, pois ali o que nos desagrada pode ser pulado, como se não existisse, e as pessoas sempre preferem mostrar seu lado melhor. Nem sempre verídico, mas escondendo debaixo do tapete aquilo que não se quer saber.

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