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Estado de Minas EM DIA COM A PSICANÁLISE

Freud e seu discípulo Jung trouxeram a peste. Saiba por quê

A descoberta do inconsciente feriu o narcisismo do homem, mostrando que ele não é dono da própria casa, pois abriga um estranho que ele próprio desconhece


21/05/2023 04:00 - atualizado 20/05/2023 01:22
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Ilustração mostra rosto multiplicado em três embaralhado em redes de fios brancos


Jamais, em tempo algum, Freud em sua transmissão da psicanálise prometeu a felicidade como resultado da cura pela psicanálise. Ele, sim, falou do alívio proporcionado pela suspensão dos sintomas neuróticos, o contentamento pela descoberta do desejo que determina cada um de nós e a alegria do saber.

Em suas “Cinco lições de psicanálise”, ele apresentou sua descoberta aos americanos em conferências, publicadas posteriormente, mas quando chegava de navio acompanhado de seu até então querido discípulo Jung, disse: “Eles não sabem que trazemos a peste...”

Esta frase tornou-se famosa entre nós analistas porque sabemos que desbravar a subjetividade não é fácil nem simples. É um processo que nos apresenta uma face de nós próprios insabida, desconhecida e que, por ignorá-la, não costumamos escutar. Mas a aproximação promovida pela psicanálise nos torna sensíveis a seus efeitos em nós e explica muitos de nossos atos que fazemos sem uma compreensão do por que fazemos.

Como exemplo desses atos temos as repetições que nos aprisionam trazendo prejuízos morais, financeiros e amorosos, que não são nada casuais, são resultado de nossos fantasmas. Eles são estruturados no decorrer da vida e é através deles que interpretamos nossa realidade, certamente com desvios e deformações próprias da nossa construção lógica equivocada.

Mas esses equívocos são positivos e nos conduzem – quando em análise – a resoluções importantes após conseguirmos atravessar estes fantasmas que nos enquadram, então alcançamos o conforto de estar com nosso desejo, mais do que com as vozes dos grandes “Outros”, que passam pela nossa vida, e não são tão grandes assim, conforme entendemos em análise.

Por falar nisso, foram muito bem comemorados, no dia 20 de abril último, os 60 anos do Círculo Psicanalítico de Belo Horizonte. Instituição pioneira e fundadora da psicanálise em Minas Gerais. Hoje sob presidência de Maria Auxiliadora Toledo Garcia Freire, a cerimônia foi impecável.

O psicanalista Arlindo Pimenta abriu o evento com um relato histórico impecável, que emocionou a todos que participam atualmente do Círculo e daqueles que fizeram passagem por lá, uma vez que muitos de nós, de alguma maneira, direta ou indireta, fomos tocados pelos desbravadores que nos trouxeram até aqui desde 1963.

Eles nos trouxeram a peste, repetindo o ato de Freud ao levar a psicanálise para os EUA. Levando a descoberta do inconsciente,  o conceito de uma realidade psíquica como nunca antes formulada, abrindo o campo da subjetividade como possível de ser tocado e trabalhado.

As consequências desta descoberta foram radicais no mundo. Abriram a dimensão da subjetividade até então pouco investida e tal foi a novidade que resistências de uma plateia de médicos e cientistas se armaram prontamente.

De fato, a descoberta do inconsciente feriu de maneira contundente o narcisismo do homem, mostrando que ele não é dono da própria casa, pois há nele um estranho que desconhece.

Ferida esta que se seguiu a duas outras: a copernicana, em que retira a Terra do centro do universo; a darwiniana, que aponta a ascendência humana, no processo evolutivo, com ancestral comum aos macacos. Essas feridas nos obrigam a retificações importantes, embora muitos ainda insistam na supremacia humana sobre a natureza e os animais. Mas pelo rumo da prosa é bem claro que somos nós, em nossa ignorância e ânsia de poder, que estamos na contramão de um futuro melhor...

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