A peleja pelo poder está sempre no horizonte dos homens. Em qualquer campo. A questão de impor ao outro aquilo que é o melhor como se alguém detivesse este saber é prática comum. Principalmente porque a crença absoluta em uma certa verdade que se crê superior a outras faz os homens perderem a compostura. E não apenas a compostura, as amizades, o respeito pelo diferente.
Faz o homem cometer falácias sem mesmo perceber a que ponto pode chegar. Para defender uma ideia, um ponto de vista, vende-se a própria mãe. Parece que as pessoas esquecem que não existe uma verdade única e absoluta, porque a verdade plena não existe. Não pode haver, portanto, a última palavra sobre nenhum saber.
O que há mesmo é forçamento e quando se força o outro a concordar ou defender um ponto qualquer não costuma dar certo. Devemos reconhecer que iguais não somos e nunca seremos. Este é o grande problema da agregação. Esquecer que é no um a um que a coisa anda. E só assim não desanda.
É preciso atentar que para fazer uma agregação será preciso pagar um alto preço – o de abandonar certos aspectos singulares e íntimos para concordar com o outro. Ou idealizar o outro ao ponto de se render a ele incondicionalmente como nos fenômenos de grupo que atualmente temos visto.
Suportar o próprio traço, sua marca singular, requer respeito e ética. Não é fácil e nos obriga a perdas necessárias e indispensáveis, caso haja interesse em manter a própria dignidade. Mas é realmente o caminho das pedras. E nos traz separações. Freud sempre disse que não podemos ofertar a felicidade, pois o que levamos é a peste.
E a peste a que se refere é o saber do inconsciente: o que somos sem saber. O que falamos sem saber, o que escapa sem querer, os esquecimentos. E quando escutamos de fato ao pé da letra o que nos falam, andamos melhor. Quando nos escutamos, ou seja, o nosso desejo, podemos ficar bem contentes, alegres até!
Podemos tropeçar desatentos, principalmente quando há afeto em jogo. Quando se crê nos “bem-intencionados”, que, afinal, sempre têm seus motivos ocultos. Andemos mais meia légua para entender. Escutemos o que dizem as palavras.
E veremos que elas dizem e apontam para o que nem sempre desejamos escutar e este engano nos sai bastante caro. Principalmente quando há interesses políticos em jogo, também vemos o quanto as palavras não dizem tudo e que há entrelinhas a serem escutadas, silêncios a serem compreendidos e, então, novos sentidos se abrirão diante dos sete buracos da nossa cabeça.
Assim é a relação entre os humanos. Viver é perigoso, nos disse, e sempre me lembro, nosso Guimarães. O que se esconde é sempre o mais importante.
Portanto, cuidado para não entrar na conversa alheia desavisado, porque não escutou nas entrelinhas, e sair queimado. A gente escapa, mas como dói...