Muitas vezes, tenho a impressão de que os nossos políticos acreditam, de fato, que a importância do eleitor se restringe ao voto. Ou seja, somos importantes como eleitores, porém somos um povo parvo – bobo ou desprovido de inteligência.
alvez nem sempre alcancemos, em tempo real, as intenções que movem os interesses políticos. Não podemos discernir, porque somos pouco envolvidos e não incluídos nas discussões a respeito de quais são os bons projetos e quais são os que só interessam a um pequeno contingente da população, geralmente os endinheirados.
Tivemos um exemplo recente que causou mal-estar e indignações. Sim, parece que o céu cairá sobre nossas cabeças ou o chão nos fugirá por debaixo dos pés. É surreal: há toda esta luta contra a devastação do planeta, mas ainda insistem no lucro imediato.
O que tem a psicanálise com isso? Qual é o seu interesse na política? A psicanálise é política. É ética. Nos interessa tudo o que tem a ver com o homem, com os interesses da civilização, com a dignidade e o respeito às diferenças e aos diferentes. A psicanálise se interessa e deve se posicionar sobre tudo na cultura e sobre o mal-estar inerente à vida.
Passo então ao foco: a Câmara dos Deputados aprovou, em 30 de maio, dia triste, o projeto do marco temporal. Trata-se de ideia colonialista que visa simplesmente revogar direitos adquiridos, derrubar demarcações e ganhar mais território indígena.
Uma ideia capciosa com fortes pinceladas genocidas, a mesma que se abateu sobre negros e índios e oprimiu pela força muitos países e continentes. Julgada superada, porém ainda ativa, e com características e justificativas cínicas utilizadas pela bancada ruralista, interessada em ampliar o agronegócio e a pecuária. Certamente, pelo número expressivo de votos, apoiada pela bancada evangélica.
Enfim, a maioria dos deputados criou um estratagema para legalizar invasões e desmatamentos para obter mais lucros e envenenar o prato do brasileiro. Morreremos todos de câncer e comendo dinheiro.
Uma charge interessante me chamou a atenção. Título: Marco temporal. Assinada por petit abel + tucumã pataxó. A praia está cheia de índios de cara brava e braços cruzados diante dos portugueses desembarcando. Na frente da água, uma placa afixada na areia com os dizeres: Somente para quem ocupou até 1499.
Tristeza imensa e preocupação causadas por crueldade e desumanidade não se descrevem em palavras diante deste ato que, afinal, não é diferente dos bárbaros que enriqueciam tomando o que é dos outros. Antiga prática.
O homem continua o mesmo: conquistando pela força, derrubando leis e tratados, passando por cima dos outros, provocando tragédias e mortes com indiferença.
O homem continua o mesmo: conquistando pela força, derrubando leis e tratados, passando por cima dos outros, provocando tragédias e mortes com indiferença.
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais... Quando seremos melhores?