O lançamento de mais um livro que contribui para a compreensão e articulação entre psicanálise e cultura de forma preciosa é uma ocasião para se comemorar. E foi isso o que aconteceu no último sábado, dia 17, na Escola de Estudos Psicanalíticos.
O livro “Adolescência: desdobramentos” (São Paulo: Instituto Langage), assinado pela psicanalista Thereza Christina Bruzzi, faz parte da coleção “Aventuras e travessuras na linguagem”, dirigida por Rosely Gazire Melgaço.
É uma obra que, a cada página, mostra o cuidado não apenas de conteúdo impecável como também na apresentação artística.
A obra é acompanhada de comentários de colegas e psicanalistas – Ana Maria Portugal, que faz com maestria a introdução; Suzana Márcia Dumont Braga apresenta a sessão de cinema; Yolanda Meira Mourão faz as articulações entre literatura e psicanálise; e Iná Nascimento apresenta a sessão de música.
É o resultado de um percurso de muitos anos de pesquisa, estudos e clínica e mostra o apreço e precisão que interessam não apenas aos psicanalistas do campo freudiano e lacaniano, mas aos demais leitores através da escrita à cunhagem de uma nova letra, uma escrita pessoal, nas reminiscências de cada um em torno da própria adolescência, como propõe Ana Portugal.
Portanto, é um livro que convida todos aqueles que se interessam por essa travessia feita, por fazer ou mesmo em andamento, que chamamos adolescência, a compreender a complexidade e riqueza do tempo, não cronológico, mas lógico desta árdua tarefa de adolescer.
Adolescer e não adoecer ou aborrecer como muitos entendam que seja, pelas mudanças que vão surgindo, sem que se possa muitas vezes saber como lidar com as alterações de humor, os distanciamentos e as separações necessárias. Rupturas de valores e ideais, que tantas vezes fazem com que os pais se ressintam e resistam a adentrar quando desconhecem as causas.
A adolescência como passagem da infância para a vida adulta é um trabalho a fazer, causa perplexidade àqueles que convivem com adolescentes. Eles têm a tarefa de fazer esse trabalho sozinhos, e devem encontrar suas próprias amarrações como pontos de referência, suas próprias respostas, uma vez que nenhum grande outro, seja pai, mãe, avós ou professores e mestres, pode lhes oferecer. Para se tornarem adultos, devem trilhar seu caminho – e é grande a complexidade e riqueza deste momento.
Bruzzi faz um trajeto muito bem-sucedido e bem articulado sobre a teoria da adolescência nos comentários de quatro excelentes filmes: “A sociedade dos poetas mortos”, “Juno”, “Uma amizade sem fronteiras” e “O mínimo para viver”.
Também visita a literatura, em “Fausto”, de Goethe, e especialmente a peça “O despertar da primavera”, que trata de uma demonstração de várias estruturas clínicas que se desenrolam entre estudantes em um colégio interno e ali se pode ver a importância da palavra de um pai. Pai como função de transmitir um dizer que nomeia, legisla, abona e, se assim não o faz, as consequências podem ser desastrosas.
Quanto às músicas, ninguém menos do que Gil, Caetano, Chico, Cazuza. Muito legal.
Como podem ver é uma leitura prazerosa e altamente indicada por nos trazer muitas questões de grande relevância, não apenas para compreender os adolescentes como rememorar e reelaborar aquele que um dia fomos. Só podemos agradecer a Thereza Chistina por nos presentear com seu belo trabalho. Um primor!
“ADOLESCÊNCIA: DESDOBRAMENTOS”
• De Thereza Christina Bruzzi
• Editora: Instituto Langage
• 248 páginas
• Preço: R$ 70