O pastor André Valadão foi, a meu ver, infeliz em seu sermão quando condena a comunidade LGBTQIA+ por ocasião da Parada do Orgulho Gay. Dias depois da repercussão negativa e das reações contrárias, alega ser contra violência e reconsidera o dever cristão de acolher a todos.
Segundo divulgam os canais midiáticos, o pastor recusa o motivo para o orgulho, condena a homossexualidade, incita seus seguidores a “irem para cima deles”. Mas, por isso, ele haverá de prestar contas ao “Chefe”.
Faz alusão ao que Deus faria, lembrando o episódio bíblico de Sodoma e Gomorra, quando enviou seus anjos para dizimar toda a população que vivia em promiscuidade. Salvaram-se apenas Ló e os seus familiares, que deviam sair sem olhar para trás. Diz a “Bíblia” que sua esposa desobedeceu e foi transformada em estátua de sal.
Para aqueles que creem, vale lembrar que, no Novo Testamento, Jesus revoga a lei e renova o entendimento de que o amor está acima de todas as coisas. É o tempo da misericórdia em lugar da condenação.
Afinal, se a alguém cabe julgar o próximo, este será Deus, e como prometido aos crentes, no juízo final.
Deixemos este trabalho a quem de direito o tomou para si e vivamos tranquilos, não trazendo “para casa” alheio sobre nossos ombros. Porque julgar o outro pesa no nosso curriculum vitae.
Ele, Jesus Cristo, andava entre os diferentes, entre os pecadores, e não aprovava vinganças, homicídios, preconceitos. Disse que cabe a nós amar ao próximo, seja amigo e ou inimigo, acertando as contas sempre, antes de chegar ao juízo final. Já é bem complicado este dever cristão.
O amor ao próximo se complica quando diz no mandamento: “como a si mesmo”. Sabemos que nem todos são amigos de si mesmos por motivos e culpas que escutamos nos divãs, e que nem mesmo o próprio sujeito sabe. Por causa do inconsciente. Somos os nossos próprios juízes e, em relação a nós, implacáveis, e, muitas vezes, cruéis.
Constatamos em nós, com frequência, o impulso de conferir maior importância ao outro do que a nós próprios. A ansiedade ocupa espaço mental e psíquico demais, causada pelo medo das opiniões, das críticas e, principalmente, de sermos abandonados e cairmos na solidão.
Tão temida a solidão! A derrocada da nossa demanda de amor... seria a morte nos primeiros anos, mas, agora, cresçamos, apesar dos fantasmas...
Nossa raiz, prematura e dependente do outro para a sobrevivência nos primeiros anos de vida, causou profunda impressão que ficará permanentemente em nossas vivências mesmo quando adultos.
Portanto, entre uns que são religiosos e outros que são profanos, o que melhor nos cabe é o nosso lugar – de preferência, respeitando a uns e outros –, pois a cada um cabem a dor e a delícia de ser o que é.