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Estado de Minas EM DIA COM A PSICANÁLISE

Falência da educação produz essa multidão de gente 'sem filtro'

Na família contemporânea, nossas crianças são majestades. A função de frustrar e colocar limites tem falhado, problema com graves consequências sociais


23/07/2023 04:00 - atualizado 23/07/2023 07:46
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Menino faz birra no chão
(foto: Vecteezy/reprodução)

Notícia ruim anda rápido, diziam meus avós e pais quando preocupados com alguém que demorava. Se não chegou notícia, é bom sinal, lembrava alguém. Há verdade nesse dito. Hoje, o celular nos dá acesso imediato a tudo – ninguém demora ou some, a não ser que queira. E a notícia ruim não nos faz mais esperar, ela nos atropela. Chega por diversas vias.

A maioria delas não atinge os próximos. Temos notícias ruins de desconhecidos, e muitas com falta respeito pelas vítimas, sem o seu consentimento. Faltam limites. Tudo é explícito, escancarado.

O volume de informações é desumano, bombardeia nossa cabeça, nos estressa e entristece, mesmo sem conhecermos as vítimas. Porque são seres humanos.

A violência e a agressividade humanas, mais do que queremos aceitar, são enormes. É difícil entender atos desproporcionais aos fatos, com tamanha falta de filtro.

Nem a educação mais refinada é capaz de extirpar o ódio, a agressividade. Um pouco de agressividade faz parte de nossa constituição e nos anima na luta pela vida. Porém, se passou disso, é excesso. É um tipo de gozo fora do lugar.

Há em nós ódio e amor, masoquismo e sadismo, desejo e vontade de gozo. A educação deve nos permitir a crítica que nos condicione a manter limites aceitáveis na convivência. Há em nós a natureza selvagem e a impulsividade difíceis de contornar. A educação é a forma mais eficiente de equilibrar forças naturais, e a linguagem nos transporta da natureza para a cultura. Depois disso, não teremos corpos naturais, como os animais.

Certos traços escapam em maior ou menor proporção, apesar da educação. Em situações-limite, mesmo a pessoa mais educada pode perder o controle e ter comportamentos passionais. Geralmente, temos a censura que nos impede de agir de modo antissocial.

Como verificamos correntemente na família contemporânea, a função de frustrar e colocar limites tem falhado, prioriza-se o excesso de amor. Nossas crianças são majestades a quem devemos pedir licença até para educá-las. Então, o resultado tem sido os “sem noção”. Pessoas sem filtro, sem pudor ou vergonha para se exibir, mesmo sem motivo nenhum, sem mostrar algo significativo.

Elas se acham. Vivem sem filtro, sem censura, desinibidas e expostas. Há um perigo nisso, e ele se mostra diariamente nos noticiários. No futebol, em vez de diversão, descontração e torcida pelo time, vemos o ódio, o racismo, agressões verbais e físicas – a garrafa lançada mata uma adolescente. Torcedores perseguem o jogador que foi mal em campo, invadem o motel para agredi-lo e nem escondem o rosto.

Na política, nem preciso chegar ao radical 8 de janeiro, com a destruição do palácio do governo e de significativas obras de arte. No aeroporto de Roma, desacatam Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Inimizades, exclusão, marcas do ódio.

Religião, ódio e preconceito são, muitas vezes, mais relevantes do que o amor e a tolerância. E, ainda, formas sutis de agressividade camufladas, que te fazem ir para casa afetado, às vezes sem localizar o porquê. Infelizmente, falta filtro. Falta noção. E a responsabilidade é toda nossa.

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