Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Da jovem estuprada e à descriminalização da maconha, uma sucessão de erros

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Uma sequência de erros e uma situação trágica. Se toda ação tem reação, fica claro que muitas das tragédias assistidas, desde sempre, são o resultado de erros que foram se acumulando, crescendo e, sem bom senso ou um ponto de basta, levaram ao sofrimento e à perda.





Logo o que sempre evitamos, o sofrimento e a dor, nós mesmos buscamos por nossas ações, e nem sempre cientes disso. Algo em nós nos conduz, às vezes, ao pior. Conclusão: não somos confiáveis. Desconfiemos de nós.

O livre arbítrio, a liberdade de escolha, nos confere grande autonomia, mas igualmente nos faz responsáveis pelos nossos atos. Ou deveria. Agimos e nos posicionamos de acordo com nossas próprias escolhas, mas o fato de sermos dotados do inconsciente nos faz errantes.

Nem sempre compreendemos nossos motivos por optar entre um ato e outro. Isso nos lança diretamente ao terreno da ética, de pensar e decidir antes de agir. Assim pensando, estamos cada vez mais implicados com a responsabilidade diante do que fazemos, como fazemos e por que fazemos.





O fato de ter este poder de escolha faz a pessoa presenciar sequências de erros cometidos por não se responsabilizar pelos atos e suas consequências para si próprio e para o outro. 

Refiro-me ao terrível acontecimento da penúltima semana, quando a moça bebeu demais, ficou inconsciente, os amigos a mandaram para casa em um carro de aplicativo, o irmão dormindo não atendeu, o motorista a deixou no passeio, um homem a levou, estuprou e abandonou.

Parece filme. Mas é vida real. Podia ter sido levada ao posto de atendimento, e nada dissto teria ocorrido. Cada etapa do trajeto mostra um erro que podia ser evitado, mas culminou numa trágica noitada. Do prazer ao horror. Consequência de várias escolhas que nós, humanos, podemos fazer e está claro que nem sempre fazemos o melhor. O individualismo nos faz livres, porém, não nos ensina que quanto mais poder de decisão, maior é a nossa responsabilidade.

Tudo por prazer; tempo é dinheiro; ninguém vai ver, posso. Sequência de irresponsabilidades e gozo excessivo da pulsão de morte. A intoxicação do organismo faz desaparecer o sujeito, que abandona seu corpo, permitindo que façam o que quiserem com ele. O dinheiro como valor maior no capitalismo nos faz pensar que perder tempo com o outro é prejuízo. Finalmente, a ideia de que se pode gozar do corpo outro com ou sem seu consentimento.





Tudo humano, tudo demasiadamente humano. Divulgado na TV aberta e altamente comentado, com espanto.  De fato, o real mais parece surreal. Só a ética pode nos salvar da nossa humanidade, nada mais.

Outra pergunta que não quer calar sobre a última semana é a descriminalização da maconha. Outro erro. Se então será legal circular com até 60g, falta pensar que sua comercialização deverá igualmente ser liberada, finalizando talvez com grande parte do narcotráfico e da ilegalidade do comércio. Esta legalização derrubará o grande foco de criminalidade e marginalidade na sociedade, além de gerar impostos para o Estado, como qualquer produto.

Ou serão os usuários, não entro aqui na questão de julgar ou defender este sujeito, obrigados a permanecer na ilegalidade e marginalidade ao adquirir o produto das mãos de criminoso?

Assim, se for para descriminalizar o uso, deve-se regulamentar a distribuição do produto (comprovadamente ansiolítico e recomendado como medicamento quando extraído do THC, o canabidiol), este ato deve levar em consideração que o portador adquiriu. Deve-se, então, estabelecer pontos de venda legalizados. Como no Uruguai, em Nova York e em outras cidades e países.

Quanto ao dano do uso para o usuário, o mesmo vale para o álcool, ou qualquer outro excesso, até mesmo a comida. Tudo em excesso é ruim. E a escolha ética deve trazer o fiel da balança para o equilíbrio.

Para finalizar, desejo aos pais um ótimo dia. Prometo falar sobre a paternidade semana que vem!