Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Função de pai vai muito além de ser doador de espermatozoide

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Como prometi na última semana falar dos pais, hoje cumpro a promessa. É bom lembrar que a palavra pai não se restringe ao ato de doar espermatozoides, fecundar um óvulo, gerar um ser. Esta criatura nascida não faz um pai. Ninguém diz ser filho do espermatozoide.





O pai é também uma função. É um homem com nome e sobrenome que, no sentido carnal, amou uma mulher, que gestou o filho e lhe deu seu nome. Todo filho é filho da mãe, mas o pai é sempre incerto. O pai não é apenas doador de espermatozoide. É aquele que adotou a cria, a nomeou, cuidou, educou. Ou seja, deu com uma mão seu nome e com a outra fez cortes, frustrou e avalizou.

Qualquer um pode ser pai, mesmo que não biológico, desde que ocupe a função de nomeação, herança afetiva, moral e legal. Colocar dentro da lei a cria, antes natural, agora, através da linguagem adquirida, ser de cultura.

Já sabemos que ser pai não é tarefa simples, nem todos têm potência para transmitir ao filho o que é preciso para seu futuro. É preciso pulso, amor, cuidado. Ensinar lições de vida não é fácil. Liderar é custoso. Mas temos hoje um exemplo.





No lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as palavras do presidente Lula mostraram o respeito à democracia e a crença no diálogo. Por mais que se o critique por suas ideologias, em seu discurso deu uma lição aos correligionários e petistas, e a todo o Brasil, que vem mesmo merecendo refletir no sentido de uma democracia. Ou do respeito às diferenças que anda agonizante.

Não sejamos ingênuos, nem todos amam a democracia. Temos antidemocratas assumidos hoje, que desejam retornar aos tempos de ditadura – isso está mais claro do que nunca no Brasil, agora que conservadores retomaram a palavra abertamente depois de um longo silêncio pós-democracia.

Volto à função paterna. Lula mostrou ser capaz de afetivamente puxar a orelha dos mal-educados. Em resposta aos que assistiam e vaiavam Cláudio Castro e Arthur Lira toda vez que tomavam a palavra. No ato, corrigiu: “O governador do Rio não está aqui porque quer, está porque foi convidado, é nosso convidado; assim como Lira também foi, por representarem instituições”.





Continua: “A democracia exige respeito à diferença, esta é a verdadeira natureza dela. É porque o outro pensa diferente que devemos ouvi-lo e tentar entender suas razões, só assim pode-se chegar a acordos produtivos para o país. Nada ganhamos com a destruição mútua, a democracia é a convivência na adversidade”.

Isso deve doer nos ouvidos dos radicais, e fazê-los espumar seus ódios. Quem no Brasil ainda não sofreu retaliações vindas de amigos, agora indiferentes ou inimigos?

Mas o que importa hoje é ver neste ato educador e civilizado a função paterna ser adotada, doa a quem doer. Precisamos  nos educar ou reeducar. É tempo de crescer, não somos crianças mimadas e imaturas. É hora de unir forças, até as antagônicas, para fazer o Brasil crescer. Ponto final. E quem não concorda com isso deve repensar seu patriotismo, se é que isso ainda seja um valor maior do que as pequenas diferenças narcísicas..

A melhor coisa é ver que há quem possa assumir a paternidade, e mostre autoridade de dizer o que é preciso, agrade ou não, a um filho, a uma nação.

É disso que hoje o mundo carece, de um gesto e ato de um pai que não desiste de seu filho, nem o abandona à própria sorte, antes o ensina a se comportar com civilidade. E bem sabemos o quanto as escolas e a convivência demandam atos como esse.