Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Agressividade não é sempre a grande vilã. Mas qual é o seu limite?

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O homem é capaz de atitudes bipolares. Ele sonha com a lua, inclusive em agosto tivemos duas luas cheias. Tem prazer ao admirar a natureza. Viaja para recantos do planeta incrivelmente lindos, e isso traz alegria e contentamento. Igualmente é capaz de agressividade desmedida que provoca guerras, destruição de outras etnias, devastação do solo, das águas e do próprio ar que respira.





Ele é capaz de matar por ter sido contrariado, traído, enganado. E capaz de se apaixonar pelo que é belo e se emocionar com a arte. Pode chegar ao topo de uma carreira de sucesso e despencar de lá por ter, ele próprio, provocado sua derrocada, sabotando-se por saber que se julga inconscientemente sem merecimento.

Então, devemos cuidar de nos observar com certa distância e alguma desconfiança, porque, motivados por paixões frequentemente desconhecidas, ficamos cegos e produzimos excessos.

A agressividade humana, sabemos, é capaz de surgir desencadeada por cobiça, odiosidade, rivalidade, até por sugestões amigas de alguém, afetando tudo na vida – de modo que se perdem oportunidades importantes porque se está preso, encolhido em um narcisismo rígido, à adoração do próprio ego, claro, sempre negada, a ponto de nada mais ser óbvio. Torna o sujeito um sem noção, um verdadeiro babaca.

Mas a agressividade não é sempre a grande vilã. Ela cumpre um importante papel quando canalizada para nossa produtividade, para a sustentação e realização dos desejos.  Nos habilita a levantar todos os dias para continuarmos a luta pela sobrevivência, pela vida. Para esses atos do cotidiano, uma certa agressividade, como força motriz, é componente imprescindível.





Mas qual seria o limite? Qual seria o limiar entre seus serviços em favor da vida e até onde pode nos levar à destruição? Dizia Freud que tudo o que coopera com a grandeza da civilização seria da ordem da pulsão de vida, e o que devasta, destrói e corrompe viria de seu oposto, a pulsão de morte.

A vida é um processo de resolução em andamento. E para tanto precisamos de energia: libido. Ela é como um líquido que vertemos de um jarro para outro, conforme nossos investimentos. Ora, contamos com uma boa reserva, mas quando interessados por alguém ou algo, por exemplo, quando apaixonados, vertemos a reserva para este alvo, e ficamos esvaziados a ponto de perder as forças quando o outro vai embora, levando todo o nosso interesse com ele.

São as pulsões que nos movem para saciar as necessidades e realizar desejos.  E delas vem a energia. As pulsões de vida e morte andam de mãos dadas, abraçadas e, bem misturadas, fazem as tendências mais equilibradas.  Quando se separam uma da outra, é desastroso, levando à depressão e  morte ou a crises de excitação e mania, igualmente destrutivas.





Ema tudo o que fazemos na vida elas estão envolvidas, são a força motriz. A agressividade é também força importante a serviço das pulsões. Para trabalhar e realizar tarefas que exigem esforço. A pulsão de vida representada pelos sentimentos positivos e construtivos pode dar lugar à pulsão de morte, antissocial, pois inclui tudo que vai contra os interesses da civilização e das relações entre os homens.

O tratamento pela psicanálise desperta todas as e moções do paciente, inclusive as hostis, aproveitadas para fins de análise. Elas também são responsáveis pela resistência ao trabalho analítico, como a transferência negativa durante o tratamento que seria responsável – até certo ponto ou até totalmente – pela paralisação e ou interrupção da análise, alcançando um fracasso construído, frequentemente atribuído ao analista. Ossos do ofício.  Saber de tudo isso nos instrumentaliza para dimensionar a importância com que a agressividade participa das condições que promovem, viabilizam e sustentam o tratamento.

Como escreveu Dostoiévski em “Os irmãos Karamazov”, “em todo homem habita um demônio oculto: o demônio da cólera, o demônio do prazer voluptuoso frente aos gritos da vítima torturada, o demônio da luxúria sem peias.” Também se encontra presente nos atos masoquistas, quando a agressividade estaria voltada contra o próprio eu do sujeito.