Literatura e psicanálise andam juntas desde sempre. Na verdade, desde a descoberta do inconsciente por Freud, a psicanálise inegavelmente tem uma dívida com a literatura.
Freud era um grande leitor que muitas vezes encontrou na literatura material fértil na busca, que também era a sua, da subjetividade. Os escritores constroem seus personagens e tramas, em suas criações são grandes observadores, capazes de descrever dilemas, sintomas, conflitos e a natureza humana de modo a tocar o leitor e permitir-lhe experimentar compreensão e aprendizado marcantes sobre si mesmos e a vida.
No livro de Sergio Paulo Rouanet, “Os dez amigos de Freud” (Companhia das Letras, 2003), encontramos a lista de livros de Freud. Ele optou não pelas mais belas obras da literatura, mas por aqueles livros que considerava bons. Porque ali encontrou material rico em matéria de subjetividade. Ele visava os personagens construídos pelos autores.
Um bom livro, segundo Freud e para nós, psicanalistas, é um bom amigo, a quem devemos algo de nossa filosofia de vida e de nossa concepção do mundo. Pois todo bom amigo pode nos ajudar a compreender a vida.
A literatura nos fornece modelos de humanidades em suas contradições, força e impulsos. Também tudo o que se refere a qualquer forma de criação artística e expressão da subjetividade nos diz respeito.
Por isso, o Letra em Cena, projeto literário criado pelo jornalista, editor e escritor José Eduardo Gonçalves, nos interessa. Natural de São João del-Rei, é autor de “Pistas falsas” (Patuá, 2023), “Cartas do paraíso” (Mazza Edições, 1998), “Vertigem” (Record, 2003) e “A cidade das memórias flutuantes” (Conceito, 2005). Foi também organizador do volume "Ofício da palavra” (Autêntica, 2014), premiado em 2015 como melhor livro teórico do ano pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Foi editor da revista de cultura Palavra (1999-2000) e é um dos editores da revista de arte e literatura Olympio.
O projeto existe desde 2016, no Centro Cultural do Minas Tênis, com total apoio das diretorias do clube. Nele, promove a reflexão sobre autores importantes da língua portuguesa, sejam falecidos ou nossos contemporâneos.
Já participaram do Letra em Cena ensaístas, professores, biógrafos e poetas, gente como Silviano Santiago, José Miguel Wisnik, Nadia Gotlib e Conceição Evaristo, sempre com ótimo público. Também promoveu debates sobre a obra de Machado de Assis, Drummond, Rosa, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Carolina de Jesus e muitos outros, além de temas que tenham interseção com a literatura.
Zé Eduardo, como é carinhosamente chamado, declara: “Acredito fortemente que a escrita e a leitura transformam pessoas e formam cidadãos melhores. A multiplicidade de temas, personagens e paisagens que habitam os livros aumenta a nossa sensibilidade para apreensão do mundo e nos aproxima do outro, do diferente. A literatura faz diferença.”
Para o próximo Letra em Cena teremos: conversa entre Zé Eduardo e Jacques Fux – autor de “Nobel” e “Antiterapias” (vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura de 2013), “Literatura e matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o Oulipo” (prêmio de melhor tese do Brasil de Letras/Linguística e outros) – e Maria Lúcia Homem, psicanalista paulista que trabalha na interface entre psicanálise, subjetividade e cultura. É autora de “Lupa da alma: quarentena-revelação” e “Coisa de menina?”, escrito em parceria com Contardo Calligaris. Leitura de Odilon Esteves.
O Letra em Cena ocorrerá na próxima terça-feira, 12 de setembro, às 19h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Bairro de Lourdes). Bora lá!!!