Jornal Estado de Minas

EM DIA COM A PSICANÁLISE

Só a poesia salva

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Disse Freud em um de seus artigos que o poeta fala, sem saber, aquilo que ele, Freud, chegará a concluir após muito estudo e reflexão. Sim, o analista é um leitor atento da poesia inconsciente. Por isso, os escritores criativos são aliados valiosos da psicanálise, são gente comum no conhecimento da mente.





Que a poesia salva, que a palavra cura é nossa aposta. Por isso caem bem as palavras de Cristina Vaz em seu primeiro álbum, “Imprevisto”, projeto musical autoral, poesia musicada da melhor qualidade, que será lançado nesta segunda-feira (30/10), nas plataformas de streaming. A psicanálise é fonte de inspiração em várias faixas, em especial na “Cinco minutos”.

Letrista e cantora, Cristina promove um encontro entre poesia e música em parceria com o compositor e multi-instrumentalista mineiro Henrique Cabral. Dois artistas que vivem na Serra do Cabral, em Brumadinho.  

O contato cotidiano com a natureza e as montanhas de Minas é diretamente refletido em suas músicas e na estética visual do trabalho, que tem na capa um tronco em forma de corpo humano muito lindo da artista plástica Niura Bellavinha, também prata da casa.

Cristina mantém forte relação entre arte e psicanálise desde a infância. Foi dançarina e hoje é psiquiatra e psicanalista. Entre os escritores e artistas nos quais se inspira,  estão os grandes Machado de Assis e Marlene Dietrich.





Henrique é professor de música e cria trilhas sonoras. Entre as referências artísticas que o inspiram estão Nina Simone, Milton Nascimento e Villa Lobos. A parceria cresce desde 2009, com a Banda Baum, até 2019, quando então iniciaram o projeto “Imprevisto”.

Sob o selo Grão Pixel, encabeçado pela multiartista Sara Não Tem Nome, o álbum atravessa vários estilos musicais: MPB, rock, jazz e o spoken word. De modo poético e político, discorrem sobre temas existencialistas, filosóficos e psicanalíticos, com letras e melodia de Cristina e harmonia por Henrique. 

O processo de escrita da maioria das letras das músicas funciona como uma colagem feita a partir da coleta de palavras, frases, histórias e conversas que podem surgir a qualquer momento e lugar, de forma imprevisível, imprevista, que se transforma em letra de música. São quebra-cabeças que se montam.





  Talvez possam ser comparados à captura das palavras, como a costura que fazemos a partir das e nas associações livres de uma análise, lembrando que o inconsciente funciona lançando significantes que têm uma determinação, que nem mesmo quem fala sabe o que diz e aonde vai dar. Mas que, como as cartas, sempre chegam ao seu destino!

Para Henrique Cabral, a música vem de fora, a harmonia é entregue e ele capta, como uma espécie de antena recebendo um sinal, uma mensagem. Um projeto muito interessante. A ficha técnica extensa, divertida e musical apresenta os participantes na criação do álbum que conta com grandes músicos brasileiros, instrumentistas, barítono e outros artistas envolvidos no bem-sucedido trabalho. Para quem aprecia, é arte pura, ou, pura arte. 

A psicanalista Gilda Vaz comenta o álbum lembrando que as letras conversam com a psicanálise na medida em que tocam naquilo que Lacan formulou como o inconsciente estruturado como a poesia. Lambendo a cria, indica o trabalho e os arranjos musicais como sendo de primeira qualidade. Concordo, gostei!!!  

Finalizo com Mario Quintana: “E eis que, tendo Deus descansado no sétimo dia, os poetas continuaram a obra da Criação”. (“Caderno H.”). Para escutar: https:/spotify.link/dLl7g4yY4Db. Show previsto para 17/11, às 20h30, no Galpão Cine Horto. Ingressos gratuitos no Sympla e na bilheteria.