Nesta minha estreia como colunista do Estado de Minas pensei em produzir o melhor artigo que pudesse. Seria o mínimo em retribuição a tanta gentileza e confiança. Comecei escrevendo sobre economia e governo Bolsonaro. Depois sobre democracia e populismo. Daí resolvi falar sobre Sergio Moro e a popularidade decrescente do presidente.
Não satisfeito, e ainda em dúvida, pratiquei meu esporte predileto com o teclado: descer a borduna em Lula, hehe. Como não consegui me decidir, resolvi publicar “tudo junto e misturado”.
Para quem não me conhece, me chamo Ricardo Kertzman, tenho 52 anos e sou assim mesmo. Muito prazer e boa leitura!
ECONOMIA E GOVERNO BOLSONARO
Dados divulgados pelo governo federal frustraram a “torcida do contra” e mostraram que o Brasil não está em recessão técnica, ainda que o crescimento seja ínfimo e muito aquém do necessário.
A retomada econômica não virá a partir de discursos inflamados e populismo nas redes sociais. O governo precisa construir pontes imediatas para destravar o nó que as gestões petistas deram na economia do País. O diabo é que o presidente Bolsonaro não só não constrói pontes, como derruba os cacos que sobraram.
O timing político raramente acompanha o da sociedade. Os mais de doze milhões de desempregados não podem esperar os trâmites congressuais pelas reformas, sem uma resposta imediata à aflição por que passam. Paulo Guedes e sua ótima equipe precisam calçar sapatos confortáveis, sacar as pastas de trabalho e partir para o campo de batalha, que são as empresas e o mercado consumidor.
Os efeitos das importantes medidas e conquistas deste governo, como a reforma da Previdência e o acordo de livre comércio com a União Europeia, além do corte de gastos, concessões e a MP da Liberdade Econômica, só produzirão resultados práticos em alguns anos. É urgente, pois, medidas que aqueçam a economia hoje, e não amanhã.
Incentivo à produção, via menor regulação estatal; ao emprego, com flexibilização radical das leis trabalhistas; ao consumo, através de crédito mais barato; e ao investimento de longo prazo, adotando regras favoráveis ao ingresso do capital externo e segurança jurídica, são as chaves para o imediato crescimento econômico.
Do contrário, Bolsonaro corre o sério risco de plantar para outro colher.
SERGIO MORO FUTEBOL CLUBE
Fosse um time de futebol profissional, o Ministro da Justiça contaria folgado com a maior torcida do País. Nada menos que 52% dos brasileiros estariam ao seu lado, ante 18% de flamenguistas e 15% de corinthianos.
Houvesse concurso para melhor ministro do governo Bolsonaro, novamente venceria com folga seus oponentes, com 29%. Paulo Guedes, o segundo colocado, teria apenas 9%.
Se as eleições fossem hoje, ainda que nenhuma pesquisa tenha testado tal cenário, Sergio Moro bateria Jair Bolsonaro, em franca perda de popularidade (hoje em torno dos 30% de aprovação), já que 40% dos eleitores gostariam que o ministro disputasse a presidência.
Em dramático processo de fritura, Sergio Moro superou a artilharia pesada e diária contra si, desde o início da divulgação das supostas mensagens do que hoje se convencionou chamar Vaza Jato.
No front interno, após forte inflexão no combate à corrupção por parte do presidente da República, Moro tornou-se alvo frequente de piadas de mau gosto, declarações desrespeitosas e até mesmo de algum cerceamento de suas atividades funcionais. Para piorar, o ministro é mal visto por caciques do Congresso e vários membros das cortes superiores, sempre por motivos óbvios, é claro.
Diante deste quadro nada favorável, Sergio Moro equilibra-se entre permanecer no governo, à espera de uma vaga no Supremo, conforme prometido, ou saltar fora do barco enquanto sua imagem não atrela-se, de forma indissociável, à de um presidente que caminha firme rumo a patamares históricos de rejeição.
(fontes dos percentuais apontados: Data Folha, Instituto Paraná, Veja on Line)
A SEGUNDA CHANCE DE LULA
A Justiça brasileira é doce como mel e leve como pluma quando o assunto é punir criminosos, sobretudo os de colarinho branco e amigos da Corte.
Condenado a mais de doze anos de prisão, o ex-presidente Lula teve a pena diminuída pelo STJ e fará jus, a partir de setembro, à chamada progressão de regime.
Lula poderá voltar para São Bernardo do Campo, trabalhar durante o dia e pernoitar em casa, mantendo-se recolhido nos finais de semana e feriados. Aos 73 anos de idade, o líder do Partido dos Trabalhadores deixará a suíte-cela da Polícia Federal de Curitiba pouco mais de um ano após sua reclusão.
Nunca é tarde para aprender e mudar. Lula terá a oportunidade de se reintegrar à sociedade e iniciar o processo de ressocialização, adotando um estilo de vida oposto ao do tempo em que praticava crimes em série - o ex-presidente cometeu ilícitos diversos e responde ainda a seis processos penais.
Assim como é difícil para um dependente químico manter-se distante das drogas ou para um alcoólatra manter-se longe da bebida, certamente será difícil para o petista, quando em liberdade, não corromper (e ser corrompido), não “lavar” dinheiro e não se organizar de forma criminosa, como acostumou-se durante os últimos anos.
Quem me acompanha no blog ou nas redes sociais sabe que sou um ferrenho combatente do lulopetismo, mas acredito que todos merecem uma segunda chance.
Nesse caso, tão logo sua condenação de 1a instância (sítio de Atibaia) seja confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4a região, a “alma mais honesta do Brasil” terá, outra vez, a oportunidade de se arrepender pelo recente passado dedicado ao crime, ainda que numa confortável sala de Estado Maior em Curitiba ou São Paulo.
Eis a segunda chance que Lula tanto merece. Que faça bom uso desta vez.
POR FIM: DEMOCRACIA SOB AMEAÇA
O populismo vem se revelando a maior ameaça à democracia desde a derrocada dos regimes ditatoriais existentes até o fim do século passado.
Ao contrário do que se imagina, tal ameaça não se restringe apenas às democracias titubeantes e recentes como as sulamericanas e do leste europeu.
Estados Unidos e até mesmo o Reino Unido passam por um delicado momento, onde séculos de democracia madura e instituições sólidas vêm sendo colocados à prova por populistas autocratas.
O populismo não usa as velhas táticas e métodos de outrora. Não pega em armas, não mobiliza exércitos e já não depende dos generais. Hoje a ordem é ocupar os postos principais dos Poderes constituídos e usar a própria democracia para solapar a… democracia.
Os modernos tiranos contam com a eterna insatisfação do povo em relação aos políticos. Pesquisas mostram que, mesmo em sociedades desenvolvidas como Alemanha e França, em média, 60% da população ou não confiam ou consideram seus governantes corruptos.
Some-se a recente tensão xenófoba, incentivada por tais populistas em busca de diversionismo contra seus próprios erros, e eis o cenário perfeito para os canalhas** emergirem como salvadores da pátria, sempre “em nome do povo” e “pelo bem do povo”.
Ao longo da história, inimigos externos e internos - geralmente sem nome e rosto -, como o odiento “eles”, empregado à exaustão pelo lulopetismo durante seu reinado cleptocrata, foram usados para mobilizar as massas em torno de um propósito comum, ou melhor de um líder comum, não raro pouco afeito à verdadeira democracia.
Se você, leitor amigo, se lembrou de Donald Trump, Lula, Jair Bolsonaro, Nicolás Maduro e mais recentemente Boris Johnson, Primeiro-ministro do Reino Unido, saiba que está com o faro apurado e os olhos atentos. Parabéns! Use sua sabedoria para combater esse mal que nos ronda e que parece ter vindo para ficar.
** O patriotismo é o último refúgio de um canalha, Samuel Johnson (1709 - 1784)