Quando sociedade e Estado (no sentido de governo, em todas as esferas e poderes) se distanciam e passam a habitar realidades antagônicas, abrem-se os portões do inferno, na terra, sob a forma de desordem e convulsão social.
Historicamente, nada de novo no ar. População e Estado sempre ombreiam quando um vive no país da Alice e o outro no da provação. O cidadão médio até suporta ser tratado como idiota e sustentar privilegiados, desde que receba ao menos um bocado das sobras.
Tomem como exemplo o primeiro mandato de Lula, quando explodiu o Mensalão e o governo distribuiu dinheiro como nunca aos amigos do poder (Odebrecht, JBS, Angola, Cuba). Paradoxalmente, a popularidade do corrupto foi às alturas.
O povo, inebriado com a fartura do crédito, foi às compras. O governo distribuiu esmolas, sob as diversas formas de assistencialismo (bolsas, cotas, aposentadorias, etc), e assim, recebendo seu mísero quinhão, a sociedade “nem te ligo farinha de trigo” para a roubalheira.
Já, em 2013, assistimos ao exemplo da disrupção entre Sociedade e Estado. Desemprego, pobreza e corrupção, em escala planetária, foram o combustível para a explosão ocorrida após os 20 centavos. Cansado de só pagar - e apanhar -, o povo resolveu reagir.
O Chile de hoje vive seus 20 centavos. A Argentina, coitada, está prestes a reviver seus dias de panelaços. O Brasil parece distante desse cenário, mas nunca é demais deixar as barbas de molho, pois o humor nacional vira mais rápido que o clima em São Paulo.
O pai, que perde um filho vítima da violência urbana ou de uma bala perdida, olha para este STF libertário com extrema fúria. A mãe, que assiste à agonia de uma filha num corredor imundo de hospital público, deseja coisas muito ruins para os parlamentares, com seus planos de saúde impecáveis, cruelmente bancados por ela mesma.
De igual sorte, os milhões de desempregados não compreendem os salários e mordomias sem fim, daqueles que se elegeram jurando defender os pobres. E de abuso em abuso, de miserê em miserê, o Estado e seus agentes enchem o saco do povo. E quando o saco estoura, é o “Deus nos acuda” de sempre.
O desafio dos Estados (novamente: no sentido de governo, em todas as esferas e poderes) é justamente encontrar a dose certa entre sua boa vida e a do povo, ou o timing exato da pré-convulsão, para dar um “cala boca” qualquer e prometer aquele tal mundo melhor que nunca aparece.