O Ministro Marco Aurélio Mello, do STF, adora usar uma expressão - de forma irônica, claro -, sobre assuntos, digamos extravagantes, do dia a dia nacional: “tempos estranhos em que vivemos”.
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Mas estranho, estranho mesmo, estranho de verdade foi o faniquito que o próprio Marcão (agora ele surta de vez, hehe) deu com uma advogada, no plenário da corte, porque ela atreveu-se, imaginem!, a dirigir-se aos ministros como “vocês”. Tadinha da moça. Levou um pito daqueles.
Para os supremos togados, advogado frequentar o STF trajando bermuda é ok. Ministro ofender ministro, ao vivo e em cores, é ok. Ministro chamar membros do Ministério Público e juízes de cretinos, canalhas, quadrilha etc é ok. Mas um desavisado pronome pessoal de tratamento é quebra de liturgia na certa.
Gostaria de ter - ah, as antigas expressões da inculta e bela - com o ministro mais uma vez. Explico: meses atrás, me encontrei com Marco Aurélio num aeroporto e conversamos animadamente por quase uma hora, na fila da imigração. A esposa dele é desembargadora criminal no Rio de Janeiro. Um encanto de senhora. “Linha duríssima! Ela prende, eu mando soltarrrrr”, disse o ministro sorrindo, com aquele sotaque peculiar. “Sou um guardião das leis. Se elas não são boas, que o Congresso as mude”.
Pois é. Se um dia eu reencontrar Marco Aurélio %u2015 na ocasião, quando lhe chamei de senhor, ele me repreendeu: “aqui fora não precisa me chamar de senhor” %u2015 lhe darei um caloroso aperto de mãos, e de feitio mui prazenteiro boquejarei (eita, que hoje eu tô litúrgico):
%u2015 Marquito, quando do nosso derradeiro colóquio, você me disse que se as leis não fossem boas, que o Congresso as mudasse. Agora que os nobres deputados finalmente estão dispostos a tentar deixar clara a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, me vem você e seu (como é mesmo que se referiu a ele? Ah, lembrei!) desafeto que não pode tomar um simples cafezinho nas ruas de Lisboa sem ser ofendido, e dizem que não pode?
Será que, definitivamente, após legislar sobre união civil homoafetiva, aborto e homofobia, dentre outros, o STF assumiu de uma vez seu tão sonhado papel de legislador sem voto ou mandato popular?
Tempos estranhos, ministro. Muito estranhos... Estranhíssimos!!
Um beijo na Dona Sandra.